Definição e importância do problema

O lúpus eritematoso sistémico (LES) é uma doença inflamatória crónica caracterizada pela formação de autoanticorpos com consequente lesão inflamatória de diversos órgãos-alvo como SNC, rins, articulações e sistema hematopoiético.

Com manifestações clínicas e laboratoriais semelhantes às observadas na idade adulta e evolução imprevisível, a criança evidencia habitualmente uma forma de início mais grave, e com compromisso de órgão também mais frequente e mais grave que no adulto.

Os estudos epidemiológicos têm demonstrado diferentes incidências da doença nas diferentes populações, havendo uma influência étnica. Assim, as crianças negras e índio-americanas têm uma maior incidência da doença. A gravidade também é diferente. As crianças negras têm uma maior prevalência de compromisso renal, neuropsiquiátrico, cardíaco.

Nos últimos anos, o prognóstico melhorou. A taxa de sobrevivência é actualmente ~95% ao fim de 11 anos de seguimento nalgumas séries. O diagnóstico precoce, a intervenção terapêutica atempada, a utilização de novos tratamentos, assim como o controlo adequado das complicações, contribuíram para a maior sobrevivência.

A abordagem terapêutica não inclui apenas a lesão do órgão envolvido pelo LES; com efeito, existem muitos outros aspectos que necessitam de especial atenção, nomeadamente o impacte negativo, uma vez que se trata de doença crónica num organismo em desenvolvimento.

Aspectos epidemiológicos

A prevalência do LES em crianças e adolescentes (1-6/100.000) é inferior à dos adultos (20-70/100.000).

Na infância e adolescência o LES é raro, correspondendo a cerca de 15% dos casos em todas as idades (sendo raro antes da puberdade). O sexo feminino é mais afectado em todos os grupos etários; todavia, a relação sexo feminino/sexo masculino acentua-se após a puberdade.

Etiopatogénese

O LES é uma doença de etiopatogénese desconhecida; possivelmente multifactorial, admite-se predisposição genética (identificado gene de susceptibilidade no cromossoma 1.

Fundamentalmente existe produção de autoanticorpos e activação policlonal de linfócitos B com consequente elevação dos níveis de imunoglobulinas que também contribuem para a elevação do teor em autoanticorpos.

Os estudos epidemiológicos têm demonstrado uma maior frequência da doença entre gémeos e familiares directos e em certos tipos HLA como HLA-B8, HLA-DR2, e HLA-DR3. A influência das hormonas sexuais também tem sido sugerida, a par de determinados estímulos antigénicos como factores infecciosos, designadamente vírus, os quais originam respostas inespecíficas (por ex. VEB).

Outros resultados da investigação permitiram demonstrar que determinados fármacos podem induzir lúpus: minociclina, procainamida, hidralazina, isoniazida, penicilamina, interferão-alfa, metildopa, clorpromazina, etanercept, infliximab, adalimumab, etc.. Nalguns casos foi verificada também associação a outros fármacos como amiodarona, fenitoína, betabloqueantes, estatinas, etc..

O lúpus tem sido associado também a anomalias dos macrófagos quanto à fagocitose, a anomalias do complemento incluindo défice de C1q , C2, C4, e a anomalias dos receptores do mesmo.

Dados obtidos em histopatologia identificaram “corpos de hematoxilina” correspondendo a degenerescência dos núcleos celulares.

A exposição a raios ultra-violeta da luz solar exacerba as manifestações do lúpus através de possível lesão das células da pele com libertação de material dos respectivos núcleos sob a forma de ADN contra o qual actuam anticorpos anti ADN, formando complexos.

Manifestações clínico-laboratoriais

O LES em idade pediátrica tem frequentemente um início crónico, insidioso, com sintomas imprecisos durante longos períodos, o que contribui para retardar o diagnóstico.

A artrite, a febre, o eritema malar em “asa de borboleta”, as aftas orais e a alopécia são as manifestações iniciais mais frequentes. Outra forma de apresentação característica do LES iniciado em idade pediátrica é a anemia hemolítica ou a trombocitopénia. No Quadro 1 estão descritos os sintomas ou sinais característicos antes do diagnóstico do LES juvenil.

QUADRO 1 – Manifestações clínicas iniciais no LES infantil e juvenil

PTI: púrpura trombocitopénica idiopática

Sintomas e SinaisCoorte Portuguesa Literatura
Febre, fadiga, perda de peso58-12,5%55-90%
Artrite/Artralgia84-41,1%60-80%
Hepatoesplenomegália18%16-42%
Nefropatia36-1,8%20-80%
Eritema malar67-10,7%22-60%
Anemia hemolítica9-1,8%10%
PTI18-12,5%14%
Linfadenopatia36%13-45%
Neuropsíquicos20-1,8%5-30%
Cardiovasculares22-1,8%5-30%
Pulmonares13%18-40%
Gastrintestinais 14-30%

Durante o curso da doença podem surgir diversas manifestações, descritas a seguir, agrupando-as por compromisso de órgão. (Quadro 2)

QUADRO 2 – Manifestações clínicas cumulativas do LES infantil e juvenil

Sintomas e SinaisCoorte Portuguesa Literatura
*De acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO)
Sistémicos ou Gerais84-75% 
Febre
Fadiga
Emagrecimento
Anorexia
80-55%
69-50%
38-30%
36%
67-100%
Muco-Cutâneos98-80,3%50-90%
Eritema malar
Aftas orais
Vasculite
Fenómeno de Raynaud
Fotossensibilidade
Alopécia
Lúpus discóide
69-54%
69-25%
42-18%
47-27%
42-25%
69-38%
0-1,8%
40-80%
10-30%
10-20%
10-39%
35-50%
20-41%
5-13%
Músculo-esqueléticos91 – 88% 
Artralgia/Artrite
Mialgia/Miosite
Tenossinovite
Necrose asséptica
84-86%
24-11%
18%
2%
60-90%
20-42%

10%

Cardíacos29-41%17-60%
Pericardite
Miocardite
Valvulopatia
Coronariopatia
Anomalias silenciosas
29-25%
2%
0-1,8%
0-1,8%

15-25%

16%

Pulmonares27-14%5-77%
Pleurite
Pneumonite
Hipertensão pulmonar
D. intersticial difusa
Hemorragia pulmonar
Embolia pulmonar
Shrinking lung syndrome
22-13%
2%

0-1,8%
2%

19-60%
1-4%
5-14%
3-8%
2%
30%
Raro
Renal*49-46%29-80%
Classe I WHO
Classe II WHO
Classe III WHO
Classe IV WHO
Classe V WHO
6-5%
23-25%
18-20%
47-45%
0-5%
15-25%
10-24%
40-64%
8-28%
Neuropsíquicos62-21%24-62%
Cefaleia
Convulsões
Psicose
Neuropatia periférica
Mielopatia
D. cerebral vascular
Distúrbios cognitivos
Distúrbios do humor
Meningite asséptica
D. do movimento/coreia
40-13%
9-5,4%
2-5,4%
7%

7-7,1%
11-7,1%
20%

0-1,8%

22-95%
10-42%
12-50%
3-30%
1-8%
12-30%
20-57%
13-57%

3-15%

Hematológicos89-75%50-75%
Trombocitopenia
Leucopenia
Linfopenia
Anemia
29-38%
47-52%
49-81%
76-48%
15-45%
20-64%
30-68%
72-84%
Gastrintestinais33%20-40%
Dor abdominal
Peritonite
Pancreatite
Alt. da função hepática
Malabsorção intestinal
7%
0-4%

18%

 

1. Sistémicas ou gerais

A febre é um sintoma frequente, quer na apresentação da doença, quer durante os surtos de agudização; pode ser intermitente ou contínua, e de grau variável. A fadiga é extremamente comum, assim como a perda de peso. Estes sintomas sistémicos ou constitucionais estão geralmente associados às outras manifestações da doença.     

2. Mucocutâneas

A manifestação mucocutânea mais característica do LES é o eritema malar em asa de borboleta. Esta lesão cutânea eritematosa localiza-se na região malar e dorso do nariz, poupando as pregas nasolabiais. (Figura 1).

Mas outras manifestações também podem ocorrer, como as aftas orais indolores, o enantema do palato, a fotossensibilidade cutânea, a alopécia, o fenómeno de Raynaud (Figuras 2 e 3), o eritema palmar e as lesões de vasculite dos pequenos vasos localizadas nas polpas digitais (púrpura palpável); ou, nas formas mais graves, as ulcerações. O lúpus discóide observa-se mais raramente que no adulto, assim como o lúpus cutâneo subagudo.

A exposição solar pode exacerbar o eritema malar e ainda desencadear o aparecimento de máculas eritematosas noutras áreas expostas, ou causar exacerbação sistémica da doença. 

FIGURA 1. Eritema facial “em asa de borboleta” em adolescente com LES. (NIHDE)

FIGURA 2. Alopécia difusa em adolescente com LES

FIGURA 3. Fenómeno de Raynaud observado nos pés de criança de 10 anos com LES (A e B)

3. Músculo-esqueléticas

A maioria das crianças tem manifestações músculo-esqueléticas. A artrite é, na sua forma característica, uma poliartrite simétrica que evolui sem deformações ou erosões. As grandes e as pequenas articulações podem ser afectadas.

A mialgia e a fraqueza muscular proximal podem também ocorrer. A miosite, quando presente, associa-se a vasculite cutânea e a lesão de órgão.

A necrose asséptica ocorre preferencialmente nas articulações de carga como a coxofemoral ou o joelho, e tem sido descrita como uma consequência do tratamento com corticosteróides ou secundária à doença.

4. Cardíacas

O compromisso cardíaco constitui uma importante causa de morbilidade e mortalidade no LES; estudos demonstram que cerca de 16% das crianças têm cardiopatia isquémica assintomática. Os factores de risco de desenvolvimento de aterosclerose precoce são os descritos no Quadro 3.

A pericardite é a manifestação mais frequente e raramente pode complicar-se por tamponamento cardíaco. No entanto, todas as estruturas cardíacas podem ser afectadas; ou seja poderá surgir qualquer dos seguintes quadros clínicos: miocardite, cardiomiopatia, endocardite verrugosa e alterações da condução. Alguns autores descreveram uma associação entre detecção sérica de anti-Ro/SSA e anti-La/SSB e compromisso cardíaco. (ver adiante)

QUADRO 3 – Factores de risco de doença cardiovascular precoce no LES

Níveis elevados de homocisteína
Hiperinsulinémia
Hipertensão arterial
Proteinúria nefrótica
Dislipidémia
Vasculite arterial
Anticorpos antifosfolípidos
Anticoagulante lúpico
Obesidade induzida pelos esteróides

5. Pulmonares

O pulmão está afectado em percentagem variável (5-77%) das crianças, sendo as manifestações semelhantes às observadas no adulto. A pleurite é a mais comum; todavia a pneumonite intersticial aguda ou crónica, a hemorragia pulmonar, o tromboembolismo pulmonar, a disfunção diafragmática e a hipertensão arterial pulmonar também têm sido descritas nas crianças. A tríade clássica (hemoptises, diminuição súbita da hemoglobina e infiltrado pulmonar característico da hemorragia pulmonar) não está sempre presente.

A síndroma do pulmão encarcerado é rara na criança, traduzindo-se pela instalação súbita de dispneia relacionável com restrição dos movimentos diafragmáticos.

A alteração das provas de função respiratória tem sido descrita em crianças assintomáticas, o que sugere a presença de doença subclínica. A diminuição da difusão do monóxido de carbono é a anomalia mais frequentemente detectada, descrita em cerca de 26% dos casos. A TAC de alta resolução é um método muito sensível para o diagnóstico precoce de doença intersticial.

Takada e colaboradores descreveram em 2005 o primeiro caso de BOOP no LES de início juvenil que respondeu a doses elevadas de corticosteróides. (ver Abreviaturas)

6. Renais

A nefrite lúpica é uma das principais apresentações clínicas do LES na criança, determinando o prognóstico da doença. A sua frequência é cerca de 80%, superior à do adulto. Em 90% dos casos a nefropatia lúpica inicia-se nos dois primeiros anos de doença. As manifestações clínicas variam desde alterações no sedimento urinário assintomáticas, até síndroma nefrótica ou insuficiência renal. As manifestações iniciais são, na maioria das crianças, proteinúria e/ou hematúria microscópica persistente. A hipertensão arterial tem sido descrita em 40% dos doentes, verificando-se, em cerca de metade, deterioração da função renal.

Os factores associados às formas mais graves de lesão renal são: níveis de proteinúria, hematúria, hipoalbuminémia, valor sérico elevado de creatinina e número de fármacos usados para controlo da pressão arterial. (Quadro 4)

A biópsia renal é útil na orientação do prognóstico e da terapêutica. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO) utiliza-se a seguinte classificação histológica para a nefrite lúpica: classe I – normal; classe II – proliferação mesangial; classe III – glomerulonefrite focal segmentar; classe IV – glomerulonefrite proliferativa difusa; classe V – glomerulonefrite membranosa; classe VI – glomerulosclerose.

As classes III e IV traduzem as lesões histológicas mais frequentes, ocorrendo em cerca de 65% dos doentes, enquanto as classes I e II têm menor frequência (25%). A classe V é mais rara na criança, descrita em aproximadamente 9% dos casos.

A biópsia renal fornece-nos outras informações úteis para o prognóstico, nomeadamente as alterações tubulointersticias em associação com as utilizadas na determinação do índice de actividade ou cronicidade.

QUADRO 4 – Factores de prognóstico da nefrite lúpica na criança

Sexo masculino
Raça negra
Início antes da puberdade
Anemia
Hipertensão arterial persistente
Insuficiência renal
Síndroma nefrótica
Nefrite da classe IV
Elevado índice histológico de actividade

7. Neuropsíquicas

O compromisso do sistema nervoso central, comum na criança com LES, comporta elevada taxa de morbilidade e mortalidade. A sua frequência varia entre 20% e 60% dos doentes, de acordo com as diferentes séries. O seu início é precoce e, por vezes, não se acompanha doutras manifestações de exacerbação do LES.

As convulsões são as manifestações mais frequentes; todavia o espectro é vasto e inclui, nomeadamente, cefaleia, psicose, depressão, neuropatia periférica, doença cerebrovascular, distúrbios cognitivos, coreia, meningite asséptica ou mielite transversa.

A cefaleia persistente e intensa não cedendo à terapêutica analgésica usual deverá ser considerada no contexto do LES.

Os anticorpos antifosfolípidos são identificados em cerca de 70% das crianças com manifestações neuropsiquiátricas do LES. Todavia, a associação entre anticorpos antifosfolípidos e manifestações não-trombóticas do neurolúpus não tem sido confirmada em diversas séries. A única correlação com significado estatístico é a descrita na doença cerebrovascular. O compromisso do sistema nervoso central é por vezes difícil de diagnosticar; com efeito, muitas das suas manifestações são subtis e poderão dever-se a outras causas, tais como: infecção, efeitos dos corticosteróides, ou dificuldade psíquica na adaptação à doença crónica. A punção lombar, a ressonância magnética e os testes neurocognitivos são úteis na orientação diagnóstica.

8. Hematológicas

Os distúrbios hematológicos são comuns no LES pediátrico. A anemia normocrómica normocítica, característica de doença inflamatória crónica, é a mais frequente; quando persiste durante longos períodos pode tornar-se microcítica e hipocrómica. A hemólise é uma causa menos frequente de anemia; todavia a prova de Coombs pode ser positiva em 30 a 40% dos doentes. A trombocitopénia observa-se em cerca de 30% das crianças e é a forma de apresentação da doença em 15% dos casos. A síndroma de Evans poderá ocorrer no contexto de LES, como forma de apresentação ou no decurso da doença.

A presença de púrpura trombocitopénica trombótica, caracterizada por anemia hemolítica microangiopática, distúrbios neurológicos e renais, impõe a exclusão de LES. Alguns autores sugerem que a púrpura trombocitopénica trombótica é mais comum no LES iniciado em idade pediátrica.

A leucopénia e a linfopénia ocorrem em cerca de metade das crianças com LES.

Os anticorpos antifosfolípidos estão presentes em cerca de 70% dos casos e existe correlação entre o respectivo teor e o desenvolvimento de fenómenos trombóticos. (ver alínea 7)

A síndroma de anticorpos antifosfolípidos catastrófica é uma complicação rara: caracteriza-se por fenómenos de trombose em múltiplos órgãos dando origem a um quadro de falência multi-órgão.

9. Gastrintestinais e hepáticas

A dor abdominal pode resultar da inflamação da membrana serosa peritoneal, pancreatite, vasculite mesentérica ou enterite com concomitante má-absorção.

A pancreatite também pode ocorrer no contexto do tratamento com corticosteróides ou azatioprina.

As alterações da função hepática são detectadas em cerca de 25% das crianças e associadas por vezes a hepatomegália no contexto do processo inflamatório. Mais raramente poderá surgir quadro de hepatite lúpica.

A esplenomegalia, assim com as adenomegalias, ocorrem em cerca de 25% dos casos; também reflectem as alterações inflamatórias generalizadas, características desta doença.

10. Endócrinas

As alterações da função tiroideia ocorrem no LES pediátrico, sendo o hipotiroidismo a alteração mais frequentemente detectada. Cerca de 20% dos doentes têm anticorpos antitiroideus e, mais raramente, tiroidite.

Atraso na puberdade e irregularidade menstrual são frequentes e relacionam-se com a actividade da doença; todavia, também podem ser secundários ao tratamento (por exemplo, com corticosteróides).

11. Autoimunológicas

O LES é acompanhado de fenómenos de autoimunidade a que será dada ênfase a seguir, no âmbito dos exames complementares, dada a sua importância para o diagnóstico.

Exames complementares

A principal marca do lúpus é a formaçção de auto-anticorpos contra antigénios nucleares (ADN, ribossomas), proteínas ribonucleares citoplásmicas (Ro, La) e nucleares (Sm), plaquetas, factores de coagulação, Ig, eritrócitos, leucócitos, etc..

Os anticorpos antinucleares (ANA) estão presentes na maioria dos casos, assim como os anti-DNA de dupla hélice. Outros anticorpos (anti-RNP, anti-SSA e anti-SSB) ocorrem com igual frequência à do adulto, sendo de salientar que na raça negra se detectam títulos mais elevados de anti-DNA e anti-SSA.

O anticorpo anti-Sm tem uma especificidade superior ao anti-DNA para o diagnóstico de LES.

Por outro lado, o factor reumatóide pode ser observado numa pequena percentagem de doentes.

O anticorpo antirribonucleoproteína tem sido associado a risco elevado de fenómeno de Raynaud e de hipertensão pulmonar.

Os anticorpos antifosfolípidos (incluindo anticardiolipina) associam-se a risco elevado de eventos trombóticos venosos e arteriais.

Os autoanticorpos são úteis no diagnóstico e na monitorização da doença, nomeadamente o anti-dsDNA. Títulos elevados ocorrem durante os períodos activos da doença, especialmente na nefrite lúpica. Outros parâmetros serológicos de doença activa são redução das fracções do complemento C3 e C4, e do complemento hemolítico total (CH50).

Reitera-se a importância doutros (exames imagiológicos, laboratoriais, ECG, ecocardiograma, etc.) face ao contexto clínico discriminado nas alíneas anteriores de 1. a 10.

O Quadro 5 sintetiza os critérios de diagnóstico habitualmente aceites para o diagnóstico de LES.

QUADRO 5 – Critérios de diagnóstico de LES

Nota: A presença de 4 (quatro) ou mais critérios legitima o diagnóstico de LES; a sensibilidade e especificidade deste método é respectivamente 96% e 100%.
    • Eritema da face em “asa de borboleta”
    • Lesão discoide (eritematodescamativa com região central atrófica evoluindo para cicatriz e alteração pigmentar)
    • Lúpus discóide
    • Fossensibilidade
    • Ulceração na mucosa oral ou nasofaringe
    • Artrite não erosiva
    • Serosite (pericardite, pleurite, etc.)
    • Sedimento urinário alterado: proteinúria (> 0,5 g/dia e/ou hematúria e/ou cilindrúria)
    • Sintomatologia neuropsíquica (convulsões e/ou doença psicótica)
    • Achados hematológicos: anemia hemolítica ou leucopénia (< 4.000/mm3) ou linfopenia (< 1.500/mm3) ou trombocitopénia (< 100.000/mm3)
    • Presença de anticorpos antinucleares (ANA)
    • Achados imunológicos: anti-DNA de dupla hélice positivo, ou anti-antigénio Sm e/ou anticorpo antifosfolípido positivo, ou reacção serológica para a sífilis falsa-positiva durante, pelo menos, 6 meses; ou anticorpos anticardiolipina IgM ou IgG

Diagnóstico diferencial

O LES deve ser considerado no diagnóstico diferencial com muitas situações clínicas, desde síndroma febril indeterminada a artralgias, anemia e nefrite. O diagnóstico diferencial da sintomatologia relaciona-se com o órgão afectado; citam-se designadamente GN pós-estreptocócica, FR, anemia hemolítica idiopática, PTI, leucemia, endocardite infecciosa. O quadro clínico inicial poderá constar apenas de parotidite, dor abdominal, mielite transversa ou vertigem.

Recorda-se, a propósito, que os ANA podem ser detectados noutras situações para além do LES e lúpus induzido por fármacos: AJ, dermatomiosite juvenil, vasculites, esclerodermia, mononucleose infecciosa e hepatite crónica activa.

Deverá ter-se em conta que certos fármacos (ver Etiopatogénese – sulfonamidas, anticonvulsantes e agentes antiarrítmicos) poderão originar quadro simile LES, que regredirá após suspensão dos mesmos. O Quadro 5 sintetiza os critérios de diagnóstico classicamente aceites para o LES.

Tratamento

O tratamento do LES iniciado em idade pediátrica é semelhante ao do adulto, todavia com algumas particularidades relativas ao grupo etário (doença crónica que se inicia num período de desenvolvimento físico e emocional).

A criança e a família devem ser devidamente informadas sobre a doença e o seu tratamento. As decisões terapêuticas devem ser tomadas em conjunto e sempre com o objectivo de permitir uma evolução física e emocional plena para que a criança possa ser um adulto independente.

A exposição solar deve ser evitada, usando sempre protector solar e roupas adequadas de forma a reduzir ao mínimo a área corporal exposta.

As crianças com fenómeno de Raynaud beneficiam de medidas protectoras para o frio, bloqueantes dos canais de cálcio ou outros vasodilatadores.

Os corticosteróides utilizados em doses variáveis são a base do tratamento, dependendo do órgão afectado. Os corticosteróides têm importantes efeitos adversos que podem afectar negativamente o desenvolvimento físico e psíquico da criança. Eles são responsáveis por inibição do crescimento linear, atraso da puberdade, fácies cushingóide, obesidade do tronco, hirsutismo, acne e estrias cutâneas. Existem ainda outros efeitos adversos igualmente graves, como por exemplo cataratas, osteoporose, hipertensão arterial, hiperglicémia, dislipidémia e miopatia.

Para reduzir estes efeitos secundários devem usar-se os corticosteróides na menor dose eficaz e durante o mínimo de tempo necessário. Algumas medidas ajudam a reduzir ou a prevenir estas consequências tais como, dieta equilibrada com restrição de hidratos de carbono e de sal, e suprimento adequado de cálcio e vitamina D.

Os AINE (e a hidroxicloroquina na dose de 5 mg/kg/dia) estão indicados no tratamento das manifestações cutâneo-articulares do LES. A administração de hidroxicloroquina tem o risco de retinopatia, pelo que se requer uma observação oftalmológica regular.

O metotrexato é outra alternativa para o tratamento da artrite refractária, permitindo reduzir a dose de corticosteróides.

Os imunossupressores (azatioprina, ciclofosfamida, micofenolato de mofetil) são usados quando existe compromisso de órgão major, como o rim ou SNC. O tratamento imunossupressor inclui duas fases: a fase indutora e a fase de manutenção.

Na fase indutora a abordagem terapêutica tem como objectivo induzir a remissão clínica, utilizando para isso, fármacos imunossupressores em dose máxima. Na fase seguinte de manutenção, a terapêutica imunossupressora é mais ligeira, mas processa-se durante um longo período e tem por objectivo manter a remissão clínica.

A azatioprina é usada nas formas ligeiras a moderadas de LES, ou para manter a remissão clínica após terapêutica com ciclofosfamida.

A ciclofosfamida é usada em pulsos endovenosos mensais durante seis meses, seguidos por uma periodicidade trimestral, completando no total 24 meses. A dose recomendada é de 500 mg/m2 superfície corporal até uma dose máxima de 1500 mg.

A fase de indução comporta risco de esterilidade por efeito tóxico ao nível das gónadas. A falência ovárica prematura, rara na idade pediátrica, está descrita em situações de exposição à ciclofosfamida em função da respectiva dose total administrada (o uso de ciclofosfamida por via oral numa dose total inferior a 200 mg/kg não provoca toxicidade gonadal).

Em todos os casos devem ser ponderadas estratégias para preservar a fertilidade, incluindo a utilização de agonistas de hormona gonadotrófica, ou a criopreservação de óvulos ou de esperma, conforme o género.

Mais recentemente, foi introduzido para o tratamento da nefrite lúpica, o micofenolato de mofetil. A dose recomendada é de 600 mg/m2 (dividido em duas tomas diárias), atendendo à dose máxima de 1500 mg duas vezes/dia. Recomenda-se fazer o aumento gradual da dose nas primeiras 4 semanas de tratamento até dose máxima recomendada.

Torna-se obrigatório proceder a vigilância clínica constante para detecção dos efeitos adversos, e laboratorial (de 15 em 15 dias, durante o primeiro mês e, depois, mensal, através do hemograma, provas de função hepática e creatinina).

A associação de ciclofosfamida e metotrexato administrados por via endovenosa foi utilizada com sucesso nos casos de nefrite refractária a outras terapêuticas, como foi demonstrado por Lehman e colaboradores.

Nos casos de citopénias renitentes à corticoterapia, a gamaglobulina endovenosa é uma alternativa terapêutica.

O rituximab, um anticorpo monoclonal anti-CD20, é outra opção eficaz no controlo da nefrite lúpica ou da citopénia grave.

O transplante autólogo de células estaminais é também utilizado nos casos de extrema gravidade e refractários ao tratamento convencional.

Prognóstico

O prognóstico das crianças com lúpus tem melhorado nas últimas décadas, sendo a taxa de sobrevivência aos 10 anos superior a 85%. Vários factores têm contribuído para esta mudança, tais como: o diagnóstico precoce, a identificação de formas menos graves, a instituição atempada de terapêutica, e a utilização de novas terapêuticas que permitem um melhor controlo de formas graves da doença.

Nas crianças com nefrite lúpica têm sido descritas taxas de sobrevivência de 97% e 94%, ao fim de 5 e 11 anos respectivamente (casos de nefrite lúpica comprovadas por biópsia renal e tratados com azatioprina ou ciclofosfamida).

A melhoria da esperança de vida acompanha-se de maior morbilidade relacionada com a lesão de órgão provocada pela doença, com as consequências dos tratamentos, ou ainda com outras complicações que surgem no decurso da doença (infecções recorrentes, aterosclerose prematura, osteoporose e hipertensão).

A avaliação da criança e adolescente com LES requer, deste modo, não só a determinação da actividade da doença, como também da lesão de órgão e das consequências no bem-estar físico e psíquico.

Os métodos actuais mais utilizados na avaliação da doença e validados na criança são o SLEDAI (Systemic Lupus Erythematosus Disease Activity Index) e o SLICC (Systemic Lupus Erythematosus International Collaborating Clinics) os quais nos permitem estimar o compromisso dos vários órgãos. Todavia existem outros métodos, que também permitem analisar a repercussão da doença na qualidade de vida da criança.

Recentemente foram publicados consensos sobre a avaliação do LES Juvenil e da nefrite lúpica, da resposta à terapêutica.

Comorbilidade

As complicações infecciosas são actualmente a principal causa de morte no doente com LES. Os agentes mais frequentes são as bactérias Gram negativas, os fungos e as infecções oportunistas (Pneumocystis, citomegalovírus, e herpes vírus). Diversos factores são responsáveis por este maior risco infeccioso, nomeadamente a linfopénia, a redução da acção fagocitária dos polimorfonucleares, a hipocomplementémia e o asplenismo funcional.

A aterosclerose prematura é responsável pelas complicações cardiovasculares que determinam maior morbilidade e mortalidade. Os factores envolvidos são múltiplos como foi descrito anteriormente.

Tem sido demonstrada a relação entre actividade da doença e dislipidémia: os triglicéridos estão aumentados no início da doença e existe uma relação entre os seus níveis e a actividade da doença. Os níveis de colesterol total e de colesterol-LDL estão também elevados no momento do diagnóstico; a sua diminuição relaciona-se com a dose de corticóide e não com a actividade da doença. Por outro lado, os níveis baixos de colesterol-HDL estão associados com a actividade da doença, enquanto os níveis altos correlacionam-se com a dose de corticóide.

Em suma, o controlo da doença acompanha-se de melhoria do perfil lipídico; e a terapêutica com corticosteróides é também benéfica.

A massa óssea aumenta ao longo da infância e adolescência, atingindo um pico no início da idade adulta. O pico de massa óssea é geneticamente determinado, mas outros factores também o influenciam tais como factores hormonais, actividade física e factores nutricionais. A incapacidade em atingir o pico de massa óssea aumenta o risco de osteoporose e de fracturas na idade adulta.

Foi demonstrada redução da densidade mineral óssea na coluna lombar e colo do fémur nos doentes com LES juvenil comparativamente aos controlos saudáveis.

As complicações da osteoporose, designadamente fracturas vertebrais, são frequentes neste grupo de doentes. A redução da densidade mineral óssea pode surgir no contexto da corticoterapia, mas também associada à inactividade e a pouca exposição solar.

O uso de bifosfonatos na criança é controverso, pelos possíveis efeitos no crescimento ósseo ou mineralização óssea. O seu uso tem sido preconizado após uma fractura induzida pela osteoporose. O alendronato na dose de 1 a 2 mg/kg/semana suprime a reabsorção óssea induzida pelos corticosteróides sem interferir no crescimento ósseo da criança.

Notas importantes

    1. A criança com LES tem indicação para cumprir o programa nacional de vacinação, com a excepão das vacinas com microrganismo vivo, contra-indicadas durante os períodos de imunossupressão. Salienta-se a recomendação especial da vacina anti-HPV, pneumococo e vírus influenza.
    2. Dado que foram definidas estratégias para preservação da fertilidade, os jovens adolescentes devem ser informados sobre os métodos anti-conceptivos. A utilização de contraceptivos com estrogéneos deve ser evitada pelo risco de exacerbação da doença ou nos casos associados anticorpos antifosfolípidos pelo risco de fenómenos trombóticos. Todavia o uso de anticonceptivos com baixa dose de estrogéneos pode ser uma opção.

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