Objectivo do Serviço de Patologia Clínica

Um Serviço de Patologia Clínica (SPC) tem por objectivo principal apoiar os serviços clínicos de modo a possibilitar, mediante exames complementares laboratoriais, o diagnóstico e o tratamento dos doentes assistidos.

Idealmente deve estar disponível 24 horas por dia, proporcionando informação correcta e em tempo real.

Nesta perspectiva, o SPC do HDE engloba essencialmente as seguintes actividades:

  1. Colheita de produtos biológicos;
  2. Execução dos exames analíticos diversos, incluindo farmacocinética e farmacodinâmica das drogas terapêuticas, técnicas de biologia molecular para o diagnóstico de doenças infecciosas, etc.;
  3. Relatório e validação dos resultados obtidos;
  4. Diálogo com os clínicos na selecção do tipo de exames analíticos mais indicados de acordo com as hipóteses de diagnóstico do doente, proporcionando apoio na interpretação dos resultados;
  5. Apoio às comissões técnicas, designadamente comissão de controlo de infecção hospitalar através de estudos epidemiológicos;
  6. Ensino pré e pós-graduado, e investigação.

O SPC constitui uma área de fronteira interpretativa com a actividade assistencial prestada ao nível dos serviços de urgência, de ambulatório e de internamento. O mesmo tem, pois, uma missão particular pelo facto de o seu modo de funcionamento poder influenciar a evolução de inúmeras situações clínicas em função da rapidez e qualidade dos resultados; tal influência, para além doutros factores, poderá traduzir-se, por exemplo, na estadia média e tempo de permanência dos doentes nas diversas áreas assistenciais, proporcionando melhor desempenho dos restantes serviços, com consequências médicas, económicas, individuais e sociais.

Para a obtenção de bons resultados torna-se, pois, fundamental que exista uma capacidade de actuação de elevado nível técnico, de actualização de equipamentos e de métodos, assim como pessoal diferenciado.

Organograma

Para a prossecução dos objectivos, o SPC, com uma direcção clínica integrando médicos patologistas clínicos e diversos técnicos diferenciados, auxiliares e pessoal auxiliar, compreende as seguintes Secções subdivididas em Áreas de Diferenciação:

  • Secção de Hematologia (Imunofenotipagem, Hemostase, Biologia Molecular);
  • Secção de Química Clínica (Endocrinologia, Oncologia, Marcadores Ósseos, Diagnóstico Pré-natal, Infertilidade, Biologia Molecular);
  • Secção de Microbiologia (Parasitologia, Micologia, Virologia, Biologia Molecular);
  • Secção de Imunologia (Imunoalergologia, Imunoquímica, Doenças Autoimunes, Serologia de Infecções Víricas e Bacterianas, Biologia Molecular.

Colheita de produtos biológicos

Num hospital pediátrico/HAPD são prestados cuidados a uma população de doentes, desde recém-nascidos de muito baixo peso (inferior a 1.500 gramas), a crianças em todos os estádios de desenvolvimento, incluindo adolescentes, a adultos jovens (na área de medicina materno-fetal).

Num laboratório que dá apoio a esta população, é da maior importância a colheita correcta das amostras, a selecção de equipamentos e de métodos que requerem pequenos volumes de amostra (micrométodos).

Torna-se ainda fundamental que o clínico tenha conhecimento dos valores de referência adoptados por grupo etário e sexo. Os equipamentos modernos permitem utilizar pequenos volumes de amostra, aspecto de grande importância num laboratório pediátrico.

Para facilitar a colheita de sangue venoso, actualmente, nalguns centros, existem aparelhos de transiluminação utilizando luz de comprimento de onda próximo do da radiação infravermelha (entre 700 e 1.000 nm) com ampliação de imagem das veias, observada em cinescópio de TV.

Transporte das amostras

Como regra geral há que ter em conta que todas as amostras devem ser transportadas ao laboratório imediatamente após a colheita. É de grande importância para alguns parâmetros (como pH, gases no sangue e amónia), que os respectivos tubos com sangue sejam transportados em recipiente com gelo.

A existência de normas de actuação no SPC, incluindo o desenho de fluxos de trabalho em colaboração com os clínicos, possibilita a melhoria da qualidade com menos custos.

Normas de higiene e protecção

Integrando este livro tópicos sobre clínica pediátrica, e uma vez que está previsto o estágio de estudantes e de clínicos no laboratório, optou-se por seleccionar algumas normas de higiene e protecção adoptadas no SPC do HDE, as quais têm a ver com o “saber estar” no ambiente de laboratório.

Higiene pessoal

Em todas as zonas de trabalho onde se verifique risco de contaminação por agentes biológicos:

  • Deve praticar-se a mais rigorosa higiene no trabalho (prioridade para a lavagem das mãos);
  • Não deve ser permitido comer, beber ou fumar;
  • Devem estar devidamente cobertas e protegidas as feridas ou outras lesões cutâneas;
  • Deve evitar-se tocar com as mãos nos olhos, nariz ou boca, enquanto se trabalha.

Cuidados na recolha, manipulação e tratamento de produtos biológicos

  • Devem estar definidos os processos para a recolha, manipulação e tratamento de amostras de origem humana e animal;
  • Não deve ser permitida a pipetagem à boca, substituindo-a por processos automáticos ou manuais;
  • Os procedimentos técnicos devem ser executados de modo a evitar a formação de aerossóis ou gotículas. Sempre que seja possível a formação de aerossóis, devem ser usados meios de protecção ocular e respiratória, ou trabalhar as amostras em câmara de segurança;
  • Deve evitar-se flamejar as ansas; utilizar, de preferência, ansas de uso único ou micro-incineradores;
  • O material lascado ou partido deve ser eliminado com segurança;
  • Os frascos e ampolas de vidro devem ser manipulados com cuidado para não derramar o seu conteúdo e/ou não provocar aerossóis; utilizar, de preferência, tubos e frascos com tampa roscada;
  • O uso de agulhas deve ser evitado, quando possível;
  • As agulhas não devem ser recapsuladas;
  • As agulhas devem ser colocadas em contentores para corto-perfurantes, sem ultrapassar 3/4 da capacidade dos mesmos.

Atitudes em caso de acidente

  • As picadas ou cortes ocorridos durante o trabalho devem ser imediatamente tratados. Devem ser deixados sangrar (mas não chupar!) e lavados com água corrente, sem serem esfregados;
  • Se as mucosas dos olhos, nariz ou boca forem atingidas por salpicos, devem ser muito bem lavadas com água corrente; deve existir um espelho por cima do lavatório para facilitar o “auto-tratamento” dos salpicos;
  • Em caso de perfuração ou ruptura das luvas, estas devem ser removidas; em seguida deve lavar-se as mãos antes de calçar novas luvas;
  • Qualquer acidente ou incidente que possa ter provocado a disseminação de um agente biológico susceptível de causar uma infecção e/ou doença no homem, deve ser imediatamente comunicado ao responsável pela segurança. Deve ser dado conhecimento do facto a todos os trabalhadores, assim como das medidas tomadas ou a tomar a fim de solucionar a situação.

Equipamento protector

Estão incluídos nesta categoria as batas, os aventais impermeáveis, as luvas, os óculos e as máscaras.

  • É obrigatório o uso de bata para uso exclusivo nas áreas de trabalho; por isso, a mesma não deve ser usada em locais fora do laboratório (secretárias, biblioteca, cantinas, salas de convívio, etc.);
  • A bata deve fechar atrás, e deve ter mangas compridas e punhos apertados;
  • O vestuário de protecção não deve ser arrumado no mesmo cacifo que o vestuário pessoal;
  • Deve haver cabides para pendurar as batas “em uso”, situados perto da saída da sala de trabalho;
  • Todo o vestuário utilizado no laboratório deve ser enviado para a lavandaria como roupa contaminada;
  • O vestuário protector existente deve ser suficiente para assegurar a mudança regular (pelo menos duas vezes por semana ou diariamente e, ainda, para uso de visitantes ocasionais);
  • Deve haver número suficiente de protectores para os olhos (preferencialmente na forma de visor);
  • Todo o vestuário contaminado por agentes biológicos no decurso do trabalho deve ser mudado imediatamente e descontaminado por métodos apropriados antes de ser enviado para a lavandaria.

Descontaminação e limpeza

  • O plano geral de limpeza para todo o laboratório deve ser compatível com o horário de laboração do mesmo, e feito de acordo com a coordenadora do serviço;
  • Os pavimentos, as bancadas e outras superfícies de trabalho devem ser limpos no fim do dia;
  • Devem ser limpos periodicamente os tectos e as paredes, assim como as janelas e fontes de luz artificial, de acordo com o programa anual de limpeza;
  • Qualquer área de contaminação acidental com sangue ou líquidos orgânicos, culturas bacteriológicas, etc., deve ser coberta com toalhetes de papel ou tecido, e sobre eles verter hipoclorito de sódio a 1%, deixando actuar durante 30 minutos; após este tempo, limpar as superfícies sujas;
  • O material de uso único deve ser colocado em contentores apropriados, hermeticamente fechados, para ser eliminado; ou, se tal não for possível, deve ser descontaminado previamente;
  • O material para reutilização deve ser descontaminado por autoclavagem.

BIBLIOGRAFIA

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