Definição e importância do problema

A afecção designada classicamente por Molluscum contagiosum ou “molusco contagioso” é uma doença benigna, autolimitada, de distribuição mundial, causada pela infecção de queratinócitos por um vírus DNA da família Poxviridae / do género Molluscipoxvirus. Trata-se duma proliferação tumoral em que a epiderme se hipertrofia e hiperplasia.

Com especificidade para células humanas, não se torna possível cultivá-lo em ovo ou culturas de tecidos. Trata-se da infecção vírica cutânea mais frequente em crianças, principalmente antes dos 10 anos de idade.

Com elevada contagiosidade, e surgindo frequentemente em pequenas epidemias, a transmissão da doença ocorre directamente, através do contacto pele – pele, ou indirectamente, através do contacto com objectos contaminados, sendo que as crianças que frequentam piscinas têm maior probabilidade de contágio. A transmissão é favorecida pelo calor, humidade ambiental e precárias condições de higiene. O período de incubação é variável desde 2 semanas a 6 meses.

Algumas séries apontam para prevalências da ordem de 30% da população em geral, podendo ultrapassar 70% na população seropositiva para VIH (vírus da imunodeficiência humana).

Manifestações clínicas

As lesões da afecção surgem como pequenas pápulas esferóides e umbilicadas, inicialmente com 1-5 mm, da cor da pele, rosadas, ou cor branca-pérola, de superfície brilhante ou translúcidas. Em número variável, e mais frequentes nos casos de dermite atópica), podem aumentar gradualmente de dimensões (por vezes até 5-20 mm ou >) e de número (havendo casos descritos referindo cerca de 100). Novas lesões podem surgir em simultâneo, pelo que, frequentemente, podem ser observadas lesões de dimensões variáveis.

A distribuição das lesões é irregular, podendo aparecer em qualquer local do tegumento. No entanto, nas crianças as localizações mais frequentes são as áreas de atrito, como regiões cervical, face, axilar, tronco e extremidades. Embora as lesões com localização anogenital sejam menos frequentes em crianças, podem corresponder a auto-inoculação, sem que indiciem transmissão sexual. (Figuras 1, 2 e 3) (NIHDE)

FIGURA 1. Pequena pápula esferóide e umbilicada (NIHDE)

FIGURAS 2 e 3. Pequenas pápulas esferóides umbilicadas da cor da pele (NIHDE)

Em geral as lesões desaparecem espontaneamente no período de um ano.

Diagnóstico

O diagnóstico é clínico na grande maioria dos casos. Em circunstâncias especiais poderá fazer-se o diagnóstico diferencial com verrugas vulgares. Nos doentes seropositivos para o VIH (situação hoje mais rara e, em princípio excluída pela história clínica), é importante o diagnóstico diferencial com criptococose, infecção que assume aspectos clínicos muito semelhantes.

Uma manobra útil no diagnóstico diferencial consiste em espremer uma lesão, com pinça: se esta manobra produzir a expulsão de uma massa esbranquiçada, confirma-se o diagnóstico de molusco contagioso. A referida massa – o corpo do molusco – é constituída por elementos que distendem as células – (corpo de inclusão citoplásmico, com 20-30μ), os quais são agregados de partículas – vírus.

Raramente é necessária biópsia cutânea.

Na dúvida de diagnóstico pode proceder-se a uma manobra útil, que consiste em espremer a lesão com uma pinça. Se esta manobra produzir expulsão de uma massa esbranquiçada confirma-se o diagnóstico de molusco contagioso.

Complicações

Eritema e alterações eczematiformes podem surgir em torno das lesões – “Dermite associada a molusco“, traduzindo uma provável resposta imune do hospedeiro a infecção.

O molusco contagioso pode ser muito pruriginoso. O acto de coçar pode servir como meio de auto-inoculação e favorecer a impetiginização das lesões.

Reiterando o que foi dito antes, os doentes com dermite atópica são mais susceptíveis à aquisição de infecção e/ou desenvolvimento de complicações.

Tratamento

É da máxima importância tranquilizar os pais e informá-los de que se trata de uma doença benigna, auto-limitada, cujo tempo de resolução espontânea é variável (3-12 meses).

A evicção de traumatismos e do acto de coçar são fundamentais para evitar a disseminação e auto-inoculação.

A decisão de tratamento deve ser individualizada. A escolha do tratamento tópico deve ser o mais inócua possível. Desta forma, a opção inicial deve incidir em métodos químicos de tratamento (hidróxido de potássio a 5% ou 10%), evitando os físicos (curetagem, criocirurgia, laser CO2), mais traumáticos, com necessidade de anestesia local.

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