Definição, nomenclatura e importância do problema

O agente Salmonella é um bacilo Gram-negativo, não esporulado, anaeróbio facultativo, que se propaga à espécie humana. É resistente a muitos agentes físicos, sendo destruído a temperatura de 55ºC durante 1 hora ou a 60ºC durante 15 minutos. Mantém-se viável no ambiente a baixas temperaturas durante dias ou semanas em material fecal, resíduos orgânicos, etc.. A doença provocada por tal agente infeccioso, de expressão clínica variada, designa-se dum modo geral salmonelose.

Salmonella é um género da família Enterobacteriaceae cuja classificação taxonómica, algo complexa e confusa, tem mudado ao longo do tempo. (ver adiante)

O referido agente pode originar, após contacto com o organismo, para além da colonização assintomática, 2 síndromas clínicas:

  1. Infecção gastrintestinal (gastrenterite aguda ou prolongada); e
  2. Invasão sanguínea com consequente infecção sistémica.

As infecções por Salmonella (doenças de declaração obrigatória) surgem de forma endémica em várias regiões do globo, designadamente nos países em desenvolvimento, constituindo um problema de saúde pública de grande magnitude, com elevados custos para a sociedade (nos EUA, > de 3 biliões de dólares/ano).

A primeira forma descrita foi a febre tifóide, actualmente com baixa incidência nos países de maiores recursos económicos e rede adequada de cuidados primários e de saneamento básico. Em todo o mundo, estima-se que ocorram anualmente cerca de 20 milhões de casos e 600.000 mortes.

Nos países ditos desenvolvidos, a incidência de febre tifóide é < 15 casos/100.000 habitantes, ocorrendo, sobretudo em cidadãos que viajam e contactam com casos de portadores; em comparação, nos países do terceiro mundo, estima-se incidência da ordem de 100-1.000 casos/100.000 habitantes.

Em Portugal, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, no quadriénio 2010-2013 foram declarados até aos 15 anos de idade (exclusive) 742 casos de salmoneloses (S. typhi e paratyphi) correspondendo a média anual de 185. Neste período da idade pediátrica, a incidência anual média situou-se em ~ 1,85/100.000, inferior à obtida no quinquénio 2003-2007: ~ 3,2/100.000.

No que respeita às salmoneloses não tifóides (ver adiante), estatísticas da OMS referentes aos EUA, apontam, por ano, para ~ 1,4 milhões de casos, 15.000 hospitalizações e ~ 600 óbitos.

Com o desenvolvimento da biologia molecular, a partir de 2004 foi adoptada nomenclatura diversa da anterior relativamente ao género Salmonella em função da homologia genética, sendo que agentes infecciosos com analogias no genoma podem provocar doença de manifestação diversa.

O Quadro 1 pretende elucidar sobre a correspondência quanto a nomenclatura:

– tradicional; versus – actual, de acordo com os CDC (Centers for Disease Control and Prevention).

QUADRO 1 – Salmonella: Nomenclatura tradicional e actual (do CDC).

TradicionalActual
*S. typhiS. entérica, subespécie entérica, serótipo typhi
*S. paratyphi S. entérica, subespécie entérica, serótipo paratyphi A
*S. dublinS. entérica, subespécie entérica, serótipo dublin
*S. typhi muriumS. entérica, subespécie entérica, serótipo typhi murium
*S. enteritidisS. entérica, subespécie entérica, serótipo enteritidis
*S. marinaS. entérica, subespécie houtenae, serótipo marina

De acordo com a classificação tradicional, o género Salmonella (S) engloba mais de 2.500 serótipos caracterizados em função dos respectivos antigénios (O ou somáticos e H ou flagelares).

Actualmente são consideradas subespécies dentro de determinada espécie, salientando-se que cada subespécie contém vários serótipos. (ver adiante)

Relativamente às espécies, ainda hoje é utilizada a divisão em grupos A, B, C, D, E, etc..

A destrinça baseia-se em provas bioquímicas ou em técnicas de hibridação do DNA.

Algumas bactérias Salmonella (particularmente S. typhi) possuem mais um antigénio, o antigénio Vi.

S. typhi, paratyphi A, B, C, typhi murium, enteritidis, etc. têm na espécie humana o único reservatório; noutros, os principais reservatórios são os animais. (ver adiante salmonelose não-typhi)

Neste capítulo são descritas duas formas clínicas: salmoneloses não tifóides e febre tifóide.

1. SALMONELOSES NÃO TIFÓIDES

Aspectos epidemiológicos e etiopatogénese

Os agentes implicados nesta forma clínica são S. dublin, presente no gado em geral (vacum, ovelhas, cabras, etc.), S. cholerae suis, no porco; a maioria dos serótipos pode atingir, contudo, um espectro mais alargado de espécies animais.

Os 2 serótipos mais importantes nas salmoneloses de transmissão de animais à espécie humana são: S. enteritidis (S. enterica – serótipo enteritidis) e S. typhi murium (S. enterica – serótipo typhi murium).

A recrudescência deste tipo de infecções em muitas partes do mundo nas 3 décadas passadas relaciona-se com práticas intensivas em pecuária, traduzidas fundamentalmente por selecção de certas estirpes em resultado do emprego de antimicrobianos de largo espectro para conservação de rações animais preparadas industrialmente.

Como principais factores de risco de surtos de doença não tifóide por Salmonella, citam-se contacto com animais domésticos infectados: cães, gatos, répteis, roedores, galinhas, ovos, anfíbios, etc.; certos serótipos estão tipicamente associados a determinados animais (por ex. S. entérica marina em iguanas).

Outros factores de risco incluem: hemoglobinopatias, paludismo, doença inflamatória intestinal, acloridria, tratamento prolongado com corticóides ou imunossupressores, quimioterapia associada a doença oncológica, infecção por VIH, e défice hereditário de IL-12 comportam maior risco de septicémia e de osteomielite por Salmonella.

Como factores predisponentes, há a salientar défice imunitário e as idades extremas, mais vulneráveis (1ª infância e idade avançada). Os animais domésticos e o Homem adquirem o agente infeccioso através de produtos animais contaminados.

As estirpes resistentes aos antibióticos são também as mais virulentas.

As infecções sucedem-se à ingestão de alimentos contaminados (carne picada, ovos, leite, água, charcutaria, mariscos de concha, pastelaria, etc.) e ao contacto com animais infectados (galinhas, iguanas de estimação ou outros répteis, tartarugas, etc.); no entanto, a propagação também se pode fazer de pessoa a pessoa (epidemias em infantários, hospitais ou instituições em relação sobretudo com superlotação de enfermarias e deficiente lavagem das mãos por parte dos profissionais de saúde que contactam intimamente com doentes ou pessoas em geral). As pessoas infectadas sem sintomas ou portadores crónicos (muitas vezes com litíase biliar) constituem reservatórios de germes microbianos que são fonte de contágio.

Como nota à margem, cita-se que foram descritos casos de transmissão sexual e por via transplacentar.

Para que surja doença sintomática no adulto torna-se necessário que o número de bactérias ingeridas (inóculo) seja ~ 100 a 1.000. A acidez gástrica inibe a multiplicação dos agentes microbianos, sendo que surge morte dos mesmos com pH < 2; pelo contrário, a acloridria gástrica favorece-a (RN e lactente). As situações de esvaziamento gástrico rápido, designadamente as associadas a gastrenterostomias, constituem também factores predisponentes.

Outros factores incluem: serótipo envolvido, porta de entrada, doenças comprometendo os mecanismos de defesa imunitária, uso prévio de antimicrobianos, etc..

A resposta inflamatória típica da mucosa intestinal na infecção por Salmonella não tifóide é um processo de enterocolite com edema difuso da mucosa, por vezes com erosões e microabcessos.

Os agentes Salmonella (bactérias invasivas) localizam-se sobretudo no intestino (íleo terminal e intestino grosso): aderindo primeiramente às microvilosidades, são depois englobados pelo enterócito (por mecanismo semelhante à pinocitose, penetrando através da membrana da célula da bordadura em escova), ocupando o respectivo citoplasma sem se multiplicarem; tal processo de multiplicação, ocorrendo nos macrófagos após cerca de 24 horas ao atingirem a lâmina própria, conduz a reacção inflamatória com estimulação do AMP cíclico, libertação de prostaglandinas, etc..

Embora S. typhi murium possa originar doença sistémica na espécie humana, da infecção intestinal, geralmente, resultam:

  • resposta secretória do epitélio intestinal (por acção de enterotoxinas com consequente diarreia secretória); e
  • indução de secreção de IL-8 e outros mediadores ao nível dos lisossomas das células da bordadura.

Caso se verifique recrutamento e transmigração de neutrófilos até ao lume intestinal, a disseminação da bactéria fica condicionada.

Da interacção entre Salmonella e macrófagos resulta alteração na expressão de certos genes do hospedeiro, incluindo os que codificam mediadores pró-inflamatórios (sintetase do NO, IL-1b), receptores ou moléculas de adesão (TNF-alfa R, CD40, molécula de adesão intercelular-1 (ICAM-1), mediadores anti-inflamatórios (TGF-beta 1 e beta 2), assim como genes envolvidos no processo de morte celular e de apoptose.

Salienta-se que existem genes específicos de virulência cuja acção se traduz na capacidade para invasão da corrente sanguínea (bacteriémia). Estes genes encontram-se com maior frequência em estirpes de S. typhi murium isoladas do sangue e das fezes.

As estirpes de S. dublin têm maior propensão para invadir rapidamente a corrente sanguínea, ao mesmo tempo que existe menor ou nula acção patogénica intestinal.

A bacteriémia é possível, contudo, com qualquer serótipo de Salmonella, especialmente em indivíduos com défice imunitário ou compromisso do sistema reticuloendotelial.

A IL-12, produzida por macrófagos activados, é um potente indutor de interferão-gama através dos linfócitos T e das células natural killer. Considerando o possível papel protector da IL-12 contra a infecção por Plasmodium, a circunstância de fagócitos conterem/estarem infectados por Salmonella pode afectar secundariamente a produção de IL-12 e levar a situação de círculo vicioso de coinfecção Plasmodium e Salmonella.

Manifestações clínicas

As manifestações clínicas da salmonelose não tifóide dependem essencialmente de dois factores:

  • infecção confinada ao tubo digestivo; ou
  • disseminação da infecção com focos extraintestinais.

Assim, poderão surgir: gastrenterite aguda, bacteriémia e infecções focais extra-intestinais.

Gastrenterite aguda

Trata-se da forma de apresentação mais frequente, podendo manifestar-se, após período de incubação geralmente inferior a 24 horas, variando entre 6 e 72 horas.

Fora do período neonatal, o quadro clínico, com uma duração entre 1 a 2 semanas, integra essencialmente náuseas, com ou sem febre, vómitos, dor abdominal e diarreia aquosa, por vezes muco-sanguinolenta.

No recém-nascido, em situações acompanhadas de imunossupressão ou de carga infectante considerável, e em função do serótipo em causa, pode seguir-se bacteriémia com repercussão sistémica grave acompanhada de leucocitose (quadro simile septicémia e/ou ou meningite-cefaleias, prostração, confusão mental, convulsões, distensão abdominal e meningismo). As fezes contêm polimorfonucleares e, nos casos não associados a fezes sanguinolentas, sangue oculto.

Cerca de 0,5% a 1% das crianças infectadas por S. não-typhi tornam-se portadoras e excretoras pelas fezes durante período indeterminado, com maior frequência em crianças de idade inferior a 1 ano.

Bacteriémia

Surgindo em cerca de 1% a 5% dos casos com diarreia, é mais frequentemente associada a sintomas em crianças maiores. O prolongamento da febre > 5 dias no contexto de gastrenterite por Salmonella sugere bacteriémia.

Esta pode estar associada a choque séptico – o que se tem verificado nos países em desenvolvimento – e surgir com recorrências em doentes com infecção por VIH apesar da antibioticoterapia.

Têm sido descritas com frequência considerável (~ 40%-70%) formas de doença invasiva provocada por S. typhi murium e S. enteritidis no continente africano em doentes com infecção por VIH e malária.

Infecções focais extraintestinais

Esta forma pode seguir-se à bacteriémia com formação de focos infecciosos em diversos sistemas, designadamente se a esse nível existem lesões com susceptibilidade para infecção (sistema esquelético, áreas de enfarte ósseo, próteses ósseas, meninges, encéfalo, alterações vasculares relacionadas com cateteres, etc.).

O pico de incidência da meningite por Salmonella verifica-se na 1ª infância; este quadro é associado a manifestações sistémicas importantes e comporta risco elevado de sequelas neurológicas e de mortalidade.

 Complicações

As complicações mais frequentes são a desidratação por gastrenterite e artrite reactiva pós-gastrenterite, sobretudo em adolescentes com o antigénio HLA-B-27.

Muitas das complicações podem, por outro lado, corresponder a manifestações da própria doença, a qual assume um carácter mais arrastado e mais grave, evoluindo para septicémia, ou recorrente; tal poderá acontecer, nomeadamente, em crianças com < 6 meses de idade, se existir patologia de base como doença inflamatória crónica, malária, infecção por VIH, anemia hemolítica, esquistossomíase, etc..

Nos doentes com esquistossomíase, o agente Salmonella poderá persistir e multiplicar-se dentro dos esquistossomas, levando a infecção crónica, somente curada após tratamento efectivo da esquistossomíase.

Diagnóstico

Nas situações de gastrenterite, o diagnóstico baseia-se no isolamento do agente, sendo preferível nas fezes relativamente à zaragatoa rectal (de salientar que a eliminação pelas fezes pode ser intermitente e prolongar-se durante semanas ou meses).

A verificação de muco, sangue e leucócitos indicia colite; de salientar que a presença de leucócitos nas fezes aponta para a presença de germe invasivo ou de germe produtor de citotoxina incluindo Salmonella (o que igualmente acontece com Shigella, Campylobacter jejuni e E. coli invasivo, obrigando a diagnóstico diferencial. (ver adiante)

Havendo sinais evidentes de focos de supuração, está indicada a pesquisa em aspirados a partir dos respectivos locais para coloração pelo Gram e exame cultural. Embora os agentes Salmonella cresçam bem em meios não selectivos ou enriquecidos (por ex. agar-sangue), e existência de microbiota mista obriga a utilizar meios selectivos (por ex. MacConkey).

Em alternativa aos exames culturais, podem utilizar-se técnicas PCR. Outras técnicas (rápidas) incluem a de aglutinação pelo látex e a imunofluorescência.

Nos casos de colite está indicada endoscopia, identificando-se padrão que pode sugerir colite ulcerosa.

Através do estudo serológico podem ser detectados anticorpos utilizando diversas técnicas.

Nos casos de doença invasiva estão indicados exames culturais a partir do sangue, urina, LCR e das lesões metastáticas (por exemplo medula óssea).

Nota importante: em crianças com < 3 meses, assim como nos casos de crianças imunocomprometidas com isolamento positivo das fezes, independentemente de haver, ou não sintomas sugestivos de bacteriémia, está indicada hemocultura.

Diagnóstico diferencial

As formas de salmonelose não-typhi traduzidas por gastrenterite evidenciam sintomatologia semelhante à das gastrenterites provocadas por outros germes microbianos, por ex. Shigella, E. coli, Yersinia enterocolitica, Entamoeba histolytica, Campylobacter jejuni, Clostridium difficile, etc., sendo a destrinça feita através de exames culturais ou análises pelos métodos ELISA e PCR.

Nos casos de diarreia persistindo mais de 14 dias, poderão estar indicados exames para avaliar síndroma de má-absorção, incluindo endoscopia e biópsia do intestino delgado.

Tratamento

O esquema de tratamento varia em função da idade e apresentação clínica.

Nos casos de gastrenterite estão indicadas as medidas aplicáveis a situações com etiologia diversa. Os antibióticos não estão em geral indicados por suprimirem a microbiota intestinal normal e poderem prolongar a excreção de Salmonella, havendo risco de se criar estado de portador crónico.

Contudo, dado o risco de bacteriémia em crianças com < 3 meses de idade e de disseminação de infecção em indivíduos imunocomprometidos, nestes casos está indicada antibioticoterapia empírica até conhecimento dos resultados do exame cultural:

  • cefotaxima (100-200 mg/kg/dia em 4 doses) durante 5-14 dias; ou
  • ceftriaxona (75 mg/kg/dia em 1 dose) durante 7 dias; ou
  • ampicilina (100 mg/kg/dia em 4 doses) durante 7 dias; ou
  • cefixima (15 mg/kg/dia) durante 7-10 dias.

Dada a possibilidade de aparecimento de multirresistências aos antibióticos, em casos de infecção por agente Salmonella, está indicada a avaliação da sensibilidade. A propósito, salienta-se que a estirpe S. typhi murium, fago do tipo DT104 é geralmente resistente a: ampicilina, cloranfenicol, estreptomicina, sulfonamidas e tetraciclina.

 Prognóstico

Desde que não existam factores de risco (infecções crónicas antes referidas, má-nutrição, défice imunitário), as crianças com gastrenterite recuperam completamente da doença.

No entanto, reiterando o que foi dito antes, Salmonellas não tifóides poderão continuar a ser excretadas durante semanas; o tempo de excreção prolongado (< 1%) é mais frequente em crianças com litíase biliar no contexto de hemólise crónica. Esta situação poderá contribuir como fonte de contaminação fecal-oral ou através de alimentos.

Prevenção

Para evitar a transmissão de infecções por Salmonella à espécie humana torna-se necessário:

  1. Controlar a infecção nos reservatórios animais;
  2. Utilizar judiciosamente antibióticos no âmbito da indústria de lacticínios e da medicina veterinária;
  3. Prevenir a contaminação de alimentos, nomeadamente no âmbito da indústria e comércio alimentares;
  4. Garantir a confecção doméstica de refeições em condições de higiene relacionadas, não só com os próprios alimentos, mas também com o pessoal envolvido, o ambiente e o equipamento utilizado.

As medidas de prevenção englobam igualmente: – cuidados de isolamento com répteis e anfíbios (quer os ditos de companhia doméstica, quer os públicos em jardins zoológicos e exposições), evitando o contacto com pessoas; e – condições especiais de segurança (implicando nomeadamente possibilidade de lavagem das mãos).

Relativamente a vacinas contra infecções por Salmonella não tifóide, actualmente as mesmas somente estão disponíveis para aplicar em animais.

2. FEBRE TIFÓIDE ou ENTÉRICA

Definição e importância do problema

A entidade febre tifóide (também designada por alguns autores febre entérica) diz respeito à infecção por Salmonella enterica serótipo typhi e Salmonella entérica serótipo paratyphi A.

Reiterando o que foi descrito anteriormente, cumpre referir que a distribuição geográfica da febre tifóide é universal, com uma incidência anual de 20 milhões de casos e de 600.000 mortes.

É endémica em países em vias de desenvolvimento, especialmente na Ásia, África e América Latina.

Embora rara no nosso meio, justifica-se a sua abordagem pela facilidade actual de transportes, e pela probabilidade de ocorrência de casos em viajantes retornados de áreas endémicas.

Aspectos epidemiológicos

Uma das particularidades da epidemiologia da febre tifóide é a emergência de resistência do respectivo agente infectante a antimicrobianos usados (multirresistência), por vezes na sequência de surtos esporádicos.

O mecanismo de tal resistência adquirida tem sido relacionado:

  1. Com a intervenção de plasmidos (o que acontece com ampicilina, cloranfenicol e sulfametoxazol-trimetoprim); e
  2. Com a intervenção cromossómica (quinolonas se usadas indiscriminadamente).

Outra particularidade diz respeito à adaptação de S. typhi à espécie humana, significando que o agente perdeu a capacidade de se transmitir a outros animais. Admite-se que tal facto se deve a fenómeno de degenerescência de genes.

Assim, o contacto directo ou indirecto com uma pessoa infectada (doente ou portador crónico) constitui pré-requisito para a infecção.

A contaminação pode verificar-se através de mariscos e ostras obtidos em viveiros próximos de esgotos, ou a ingestão de alimentos ou água contaminados com fezes humanas por S. typhi ou paratyphi A (ausência de saneamento básico).

Etiopatogénese

Para além da implicação do agente referido anteriormente (Salmonella enterica serótipos typhi e paratyphi A), pode também surgir doença idêntica mais ligeira provocada por S. paratyphi B (Schotmulleri) e S. paratyphi C (Hirschfeldii), respectivamente na proporção de 10/1 casos. O Homem (doente ou portador) constitui o único hospedeiro das referidas bactérias. (ver adiante)

Em termos de património genético, cabe referir que S. typhi partilha muitos genes com Escherichia coli e com S. typhi murium, alguns dos quais são conhecidos pela sua patogenicidade, e outros, adquiridos durante a evolução dos respectivos agentes infecciosos.

Um dos genes mais específicos de S. typhi é o chamado Vi, o qual está presente em cerca de 90% das estirpes, com efeito protector contra a acção bactericida do soro de doentes infectados.

Após ingestão, o número de microrganismos S. typhi para provocar infecção pode oscilar entre 100 e 1.000. Os mesmos, atingindo a mucosa intestinal, penetram depois em determinados enterócitos especializados (células M do íleo terminal encimando as áreas de tecido linfóide – as placas de Peyer), ou atravessam o espaço intercelular. Em qualquer das modalidades de passagem transepitelial, atingem o tecido linfóide mesentérico e os vasos linfáticos até aos vasos sanguíneos. Inicia-se assim bacteriémia (chamada primária), assintomática, a que correspondem em geral culturas negativas.

Os agentes S. typhi disseminam-se, então, pelo organismo colonizando órgãos do SRE (baço, fígado, vesícula biliar, medula óssea), multiplicando-se no interior de macrófagos.

Após período de multiplicação, os referidos S. typhi voltam novamente à corrente sanguínea, originando nova bacteriémia (agora chamada secundária), a qual coincide com o início de sintomas e corresponde ao fim do período de incubação (de duração variável, em função da magnitude do inóculo).

A infecção com S. typhi produz uma resposta inflamatória nas camadas mais profundas da mucosa e tecido linfóide subjacente com hiperplasia das placas de Peyer e subsequente necrose que pode levar a ulceração do epitélio suprajacente; por sua vez, como consequência da lesão da muscularis e peritoneu, surgirá perfuração da parede intestinal.

As úlceras podem sangrar e curar depois sem cicatriz, ou originar estenose intestinal. Ao nível dos gânglios mesentéricos, fígado e baço, a par do processo inflamatório, verificam-se áreas de necrose focal.

Admite-se que, através dos genes de virulência (incluindo SPI-2, TTSS) exista capacidade para o agente infeccioso provocar infecção sistémica. O antigénio capsular polissacarídeo de virulência (Vi) interfere com a fagocitose prevenindo a ligação de C3 à superfície da bactéria.

A capacidade de os microrganismos sobreviverem dentro de macrófagos (outra característica de virulência) é também determinada geneticamente (gene phoP).

A ocorrência ocasional de diarreia pode ser explicada por enterotoxina termolábil (similar a enterotoxina produzida por E. coli e vibrião colérico).

A síndroma clínica constituída por febre e sinais sistémicos deve-se à libertação de citocinas pró-inflamatórias a partir das células infectadas (IL-6, IL1-beta, TNF-alfa).

Os doentes com infecção por VIH, e Helicobacter pylori têm especial predisposição para febre tifóide.

Manifestações clínicas

As manifestações clínicas revelam-se após período de incubação, oscilando entre 7 e 14 dias, com limites entre 3-60 dias. Classicamente são descritos cinco períodos:

1 – Período inicial (duração ~ 7-10 dias) com sintomatologia geral de início agudo ou insidioso integrando mal-estar geral, anorexia, dor abdominal, vómitos, diarreia ou obstipação, hepatosplenomegália; e também febre alta (39-40ºC) com frequência cardíaca não proporcional à febre (classicamente bradicárdia com febre).

2 – Período de estado (duração ~ 7-14 dias) caracterizado por exacerbação da sintomatologia descrita no período inicial, sendo notória a febre elevada. Neste período poderá surgir exantema maculopapular de cor rósea na face anterior do tórax e abdómen, desaparecendo à pressão e surgindo em surtos; é a chamada roséola tífica com valor de grande sensibilidade para o diagnóstico, mas de fraca especificidade por ser inconstante. Neste período poderão surgir complicações que são descritas adiante.

3 – Período de declínio (duração ~ 7 dias) associado a oscilações da temperatura, com febre cada vez menos elevada e melhoria progressiva dos sinais gerais.

4 – Período de convalescença (duração variável): astenia, emagrecimento e, por vezes, febrícula de curta duração; nalguns casos surge queda de cabelo e descamação da pele.

De salientar que existem variantes quanto a manifestações clínicas: forma clínica em que predomina hiperpirexia; forma subfebril ou acompanhada de febre intermitente, mas prolongada; forma acompanhada de miocardite ou pneumonia traduzindo repercussão especial ao nível de determinados territórios, etc..

Estima-se que cerca de 10% dos doentes com febre tifóide eliminam pelas fezes S. typhi durante 3 meses, e que em cerca de 4% dos casos se verifica o estado de portador crónico (risco, no entanto, que é superior no adulto).

Complicações

Hoje em dia raras, tendo em conta o diagnóstico e antibioticoterapia precoces, surgem habitualmente ao cabo de 3-4 semanas de evolução:

  1. Enterorragia, em cerca de 1% dos casos (por vezes subtil e microscópica);
  2. Abcesso intestinal;
  3. Perfuração intestinal (0,5%-1%), esta última a complicação de maior gravidade, podendo levar a peritonite.

Complicações raras incluem endocardite, miocardite tóxica, choque cardiogénico, neurológicas (ataxia cerebelosa, coreia, síndroma de Guillain-Barré, necrose da medula óssea, SHU, meningite, etc.).

Exames complementares

O diagnóstico de febre tifóide é fundamentalmente clínico, a confirmar pela realização dos seguintes exames:

  • Identificação do microrganismo (utilizando diversas técnicas) e em diversos locais: fezes (eliminação intermitente), sangue, medula óssea, bílis, LCR, etc.;
    A hemocultura (o melhor método para o diagnóstico) é positiva em 60%-80% dos doentes na fase precoce da doença desde que não tenha havido antibioticoterapia prévia. A coprocultura e a urocultura são positivas após a 1ª semana; a coprocultura poderá já ser positiva durante o período de incubação. O mielocultura, pela sua elevada sensibilidade, aumenta a probabilidade de confirmação bacteriológica, com o inconveniente de se tratar de técnica invasiva.
  • Estudo serológico (detecção de anticorpos utilizando diversas técnicas).
    Pela reacção de Widal, pesquisando o título de anticorpos aglutinantes ou aglutininas para os antigénios O e H; em geral, a reacção é negativa na primeira semana, positivando a partir desta data – para o antigénio O entre o 7º e 12º dia, e para o antigénio H entre o 8º e o 15º dia.
    Os resultados da reacção de Widal devem ser interpretados devidamente pelas seguintes razões:
    • somente em 30% a 50% dos doentes se verifica elevação dos títulos;
    • em 30% dos casos o resultado é falsamente negativo;
    • a imunização antitífica prévia e infecções anteriores por outros germes, designadamente enterobacteriáceas (partilhando com os agentes Salmonellas similitude de antigénios capsulares) poderão determinar a elevação de aglutininas O e H;
    • o nível sérico de aglutininas em indivíduos sãos varia de região para região endémica;
    • a utilização anterior, em fase precoce da doença, quer de corticóides, quer de antibióticos pode modificar também a evolução da resposta serológica;
    • Portanto, não se trata duma prova específica.
  • Prova da PCR (da reacção em cadeia da polimerase), prova rápida PCR usando H1-d primers para amplificação de genes específicos de S. typhi, prova rápida na urina para identificação do antigénio Vi, reacção ELISA (reacção imunoenzimática), reacção de contra-imunoelectroforese, anticorpos monoclonais, etc..
  • Exames para avaliação global: hemograma (os achados, inespecíficos, habitualmente detectados, são: anemia, leucopénia com neutropénia, eosinopénia e linfocitose relativa; nas crianças pequenas pode haver leucocitose; a leucocitose também poderá significar doença intercorrente; trombocitopénia pode corresponder a doença grave e acompanhar CIVD); as provas de função hepática poderão evidenciar anomalias, o que é raro.

Diagnóstico diferencial

As salmoneloses typhi e paratyphi evidenciam globalmente sintomatologia semelhante a doenças infecciosas de etiologia diversa (por ex. mononucleose infecciosa, malária, calazar, tuberculose, brucelose, endocardite bacteriana, etc.) e a doenças não infecciosas (conectivites, linfomas, leucemias, etc.).

A febre paratifóide originada por S. paratyphi cursa com um quadro clínico semelhante ao da febre tifóide, em geral mais ligeiro, com período febril mais curto e menor frequência de complicações (excepto no lactente). O período de incubação é mais curto e a diarreia surge mais frequentemente.

Tratamento

Medidas gerais

Na maioria dos casos de febre tifóide é possível o tratamento em regime ambulatório com vigilância médica rigorosa (detecção de complicações e de eventual ausência de resposta ao tratamento) e antibioticoterapia oral.

A hospitalização, pressupondo antibioticoterapia parentérica e fluidoterapia IV, está indicada perante vómitos persistentes, diarreia grave, distensão abdominal e compromisso do estado geral.

As medidas gerais incluem repouso, regime alimentar simples, mole, facilmente digerível, hidratação, correcção das alterações hidroelectrolíticas, e antipirexia com paracetamol PO (10-15 mg/kg/dose, 3 a 4 vezes, até dose máxima de 80 mg/kg/dia).

Verificando-se íleo paralítico ou distensão abdominal, deve proceder-se a pausa alimentar.

Tratamento antimicrobiano

São descritos dois esquemas aplicáveis a infecções por S. typhi e paratyphi (respectivamente febre tifóide e paratifóide), respeitando sempre o resultado das provas de sensibilidade aos antimicrobianos:

  1. → Esquema recomendado pela OMS, não consensual entre os peritos, designadamente no que respeita às fluoroquinolonas, indicadas somente a partir da adolescência tardia. (Quadro 2)

QUADRO 2 – Tratamento antimicrobiano da febre tifóide (segundo a OMS).

1 – Formas não complicadas

    • Sensibilidade comprovada
      • cloranfenicol PO ou IV (50-75 mg/kg/dia) em 4 doses durante 14-21dias; ou
      • amoxicilina PO ou IV (75-100 mg/kg/dia) em 3 doses durante 14 dias.
    •  Multirresistência
      • fluoroquinolona PO (15 mg/kg/dia) em 2 doses durante 5-7 dias; ou
      • cefixima PO (15-20 mg/kg/dia) em 2 doses durante 7-14 dias.
    • Resistência a quinolonas
      • azitromicina PO (8-10 mg/kg/dia) em 1 dose durante 7 dias; ou
      • ceftriaxona IV ou IM (75 mg/kg/dia) em 1dose durante 10-14 dias.

2 – Formas complicadas

    • Sensibilidade comprovada
      • fluoroquinolona (por ex. ciprofloxacina) idem durante 10-14 dias;
      • ceftriaxona idem.
    • Multirresistência
      • fluoroquinolona idem durante 10-14 dias.
    • Resistência a quinolonas
      • ceftriaxona idem;
      • cefotaxima (80 mg/kg/dia) durante 10-14 dias.

2.→ Esquema alternativo

2.1 – O tratamento de primeira linha face a estirpes sensíveis consiste na administração de ampicilina IV (200 mg/kg/dia em 4 doses durante 10-14 dias), trimetoprim/TMP-sulfametoxazol/SMX PO (10 mg/kg/dia de TMP + 50 mg/kg/dia de SMX em 2 doses durante 10-14 dias) ou fluoroquinolonas (por ex. ciprofloxacina PO (15-30 mg/kg/dia durante 10-14 dias), sendo que é dada preferência aos dois últimos antimicrobianos por se tratar de microrganismo intracelular.

2.2 – Se houver suspeita de estirpe resistente, utiliza-se a ceftriaxona IV ou IM (100 mg/kg/dia durante 14 dias) até se conhecer o perfil de sensibilidade; como alternativa: cefotaxima IV (150 mg/kg/dia em 4 doses durante 14 dias), ou ofloxacina PO (15 mg/kg/dia em 2 doses) durante 10 dias.

2.3 – Em casos resistentes, determinados estudos demonstraram boa resposta com azitromicina.

Corticosteróides

O tratamento com corticosteróides, indicado em situações críticas de choque, coma ou estado confusional, diminui a mortalidade. Recomenda-se dose inicial de dexametasona de 3 mg/kg IV em 30 minutos, seguida de 1 mg/kg/dia em 4 doses durante 2 dias.

Prognóstico

Apesar do tratamento, poderão surgir recaídas (manifestadas fundamentalmente por febre e outras manifestações),em cerca de 5%-15% dos casos no período de convalescença; as mesmas são explicáveis pela manutenção do microrganismo acantonado na vesícula biliar ou gânglios mesentéricos, regiões de difícil acesso aos antimicrobianos.

De acordo com dados da literatura, são mais frequentes após tratamento com cloranfenicol ou amoxicilina, obtendo-se maior percentagem de curas com quinolonas ou cefalosporinas de 3ª geração.

Os indivíduos que excretam o microrganismo durante período > 3 meses após episódio de infecção são considerados portadores crónicos (< 2% no casos pediátricos, valor que corresponde a proporção mais baixa do que a verificada na idade adulta).

Nos casos de esquistossomíase pode verificar-se estado de portador urinário crónico.

As recidivas correspondem a novo episódio de febre tifóide após se ter verificado cura do primeiro episódio.

Prevenção

Os aspectos gerais mais importantes de prevenção da doença diarreica infecciosa (em idade pediátrica, e não só) dizem respeito fundamentalmente à prática de medidas de higiene simples:

  • lavagem frequente das mãos com água e sabão;
  • utilização de água não contaminada na alimentação (fervida ou engarrafada com garantia) e como bebida simples;
  • cuidados de isolamento e conservação (rede de frio);
  • confecção dos alimentos, com especial atenção para a lavagem adequada de alimentos não submetidos a fervura.

A sigla em língua inglesa dos “três FFF” – Food, Flies, Fingers (alimentos, vectores, dedos das mãos) traduz bem a necessidade de detectar, controlar e eliminar as fontes de infecção, tanto animais como humanas. Chama-se mais uma vez a atenção para o papel dos répteis domésticos na transmissão de Salmonella, tornando-se indispensável que crianças com idade inferior a 5 anos ou pessoas com síndromas de imunodeficiência de qualquer etiologia não contactem com tais animais.

Em alínea anterior foi dada ênfase aos alimentos contaminados que poderão estar implicados na cadeia de transmissão de germes microbianos.

Outra medida diz respeito à imunização antitífica indicada em situações especiais (por exemplo deslocação para zonas endémicas com elevada prevalência de estirpes de Salmonella typhi multirresistente).

Na confecção de tais vacinas (de três tipos) são utilizadas subunidades antigénicas e células bacterianas atenuadas, tendo sido demonstrada relativa eficácia (< 100%) em crianças de idade escolar, no adolescente e no adulto:

  1. Vacina oral viva atenuada (Ty21a); é uma vacina imunogénica a partir dos 2 anos, devendo repetir-se de 5-5 anos;
  2. Vacina morta por via parentérica (inactivação pelo fenol e calor, holocelular);
  3. Vacina parentérica à base de polissacáridos capsulares (ViCPS ou Vi Conjugada) para crianças com > 2 anos, a repetir de 2-2 anos.

Em Portugal, é recomendada a vacina à base de polissacáridos com a indicação atrás expressa, conferindo protecção durante três anos.

BIBLIOGRAFIA

American Academy of Pediatrics (AAP) In: Pickering LK (ed). Red Book 2003. Report of the Committee on Infectious Diseases. Elk Grove Village, Illinois/USA: AAP, 2003

Butta ZA. Current concepts in the diagnosis and treatment of typhoid fever. BMJ 2006;333:78-82

Centers for Disease Control and Prevention: Human salmonellosis associated with animal-derived pet treats-United States and Canada, 2005. MMWR 2006;55:702-705

Direcção Geral da Saúde (DGS). Doenças de Declaração Obrigatória 2003-2007. Lisboa: DGS, 2008

Feigin RD et al (eds). Textbook of Pediatric Infectious Diseases, Philadelphia: Elsevier-Saunders, 2004

Garcia JJ, Cruz O, Mintegi S, Moreno JM (eds). M Cruz Manual de Pediatria. Madrid: Ergon, 2020

Goldman L, Schafer AI (eds). Goldman-Cecil Medicine. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2016

Helms M, Simonsen J, Molbak K. Quinolone resistance is associated with increased risk of invasive illness or death during infection with Salmonella serotype typhi murium. J Infect Dis 2004;190:1652-1654

Huang DB, DuPont HL. Problem pathogens: extra – intestinal complications of Salmonella enteric serotype typhi infection. Lancet Infect Dis 2005;5:341-348

Jones TF, Ingram LA, Fullerton KE, et al. A case-control study of the epidemiology of sporadic Salmonella infection in infants. Pediatrics 2006;118:2380-2387

Kliegman RM, StGeme JW, Blum NJ, Shah SS, Tasker RC, Wilson KM (eds). Nelson Textbook of Pediatrics. Philadelphia: Elsevier, 2020

Kline MW, Blaney SM, Giardino AP, Orange JS, Penny DJ, Schutze GE, Shekerdemien LS (eds). Rudolph’s Pediatrics. New York: Mc Graw Hill Education, 2018

Long SS, Prober CG, Fischer M (eds). Principles and Practice of Pediatric Infectious Diseases. Philadelphia: Elsevier, 2018

McIntosh N, Helms P, Smyth R, Logan S. Forfar and Arneil´s Textbook of Pediatrics. London: Churchill Livingstone, 2008

Moro M, Málaga S, Madero L (eds). Cruz Tratado de Pediatria. Madrid: Panamericana, 2015

Prakash P, Mishra OP, Singh AK, et al. Evaluation of nested PCR in diagnosis of typhoid fever. J Clin Microbiol 2005;43:431-432

Wain J, House D, Parkhill J, et al. Unlocking the genome of the human typhoid bacillus. Lancet Infect Dis 2002;2:163-170

Worsena CR, Miller AS, King MA. Salmonella Infections. Pediatr Rev 2019;40:543-545; DOI: 10.1542/pir.2017-0198