Definição e importância do problema

Pediculose é a infestação cutânea causada por piolhos, artrópodes hematófagos humanos pertencentes à família Pediculocidae, que compreende as espécies:

  • Pediculus humanus (corporis): do corpo ou roupa. Trata-se duma zoonose;
  • Pediculus humanus (capitis): do couro cabeludo;
  • Phthirius pubis: afectando a região púbica, pertence à família Pthiridae.

A pediculose do corpo e a pediculose púbica atingem preferencialmente adultos com vida precária e sexual activa, pelo que não são abordadas (Quadro 1).

Manifestações clínicas e diagnóstico

A pediculose da cabeça é uma infestação ubiquitária, verificando-se maior incidência entre os 3 e os 11 anos de idade. É mais frequente no sexo feminino. O contacto interpessoal é a forma mais frequente de transmissão, mas pode verificar-se a disseminação por fómites.

Os achados clínicos são limitados ao couro cabeludo, mais frequentemente região occipital e retroauricular. O sintoma clássico é o prurido marcado, ainda que de intensidade variável.

Na primeira infestação o prurido pode demorar 2 a 6 semanas até se evidenciar; em infestações futuras desenvolve-se prontamente. Salienta-se, assim, a possibilidade de ocorrência de surtos epidémicos em creches e escolas. Poderão surgir complicações (piodermites). Alguns indivíduos assintomáticos podem ser considerados “portadores”.

O diagnóstico é feito pela identificação do parasita ou pelos ovos (lêndeas, em geral muito numerosas) na haste do pêlo. Ocasionalmente pode existir febre baixa, irritabilidade, linfadenopatia ou infecção bacteriana secundária.

QUADRO 1 – Formas de pediculose

Parasita (piolho)Doença

Pediculus humanus var. capitis

Pediculus humanus var. corporis

Phthirus pubis

Pediculose da cabeça

Pediculose do corpo

Pediculose púbica

Diagnóstico

O diagnóstico é feito pela identificação do parasita ou pelos ovos (lêndeas, em geral muito numerosas) na haste do pêlo. Ocasionalmente pode existir febre baixa, irritabilidade, linfadenopatia ou infecção bacteriana secundária.

Tratamento

Perante o doente com pediculose da cabeça, recomenda-se investigação cuidadosa e tratamento simultâneo dos contactos infectados.

O medicamento pediculocida deve ser utilizado preferencialmente em forma líquida, com fricção cuidadosa das áreas de infestação, em duas aplicações, cada uma de, pelo menos, dez minutos, realizadas com uma semana de intervalo. Na primeira aplicação são destruídos os parasitas adultos; e na segunda, as larvas que eventualmente tenham eclodido dos ovos (lêndeas).

É fundamental a remoção mecânica das lêndeas, facilitada pela utilização de pentes especiais de dentes finos em bisel e de espaços apertados. É também aconselhável corte de cabelo (muito curto), o que irá facilitar a remoção das referidas lêndeas.

A remoção das lêndeas das pestanas é por vezes difícil, mas a utilização de pomada oftálmica com vaselina em dias consecutivos facilita a remoção mecânica destas.

Os fármacos actualmente disponíveis em Portugal para o tratamento da pediculose da cabeça incluem:

  • Permetrina a 1% e a 5%. Esta última dosagem é mais eficaz, mas em Portugal existe apenas em manipulado;
  • Benzoato de benzilo a 20%;
  • Crotamitona a 10%.

Estão, ainda, disponíveis produtos que têm como princípio activo complexos oleosos e siliconados que envolvem completamente os parasitas, formando um filme oclusivo que obstrui os seus espiráculos. Inicialmente pensava-se que o mecanismo da morte consistia em asfixia; no entanto, num estudo recente demonstrou-se que decorre de um processo de desequilíbrio osmótico. Ao envolver completamente o parasita, este não consegue excretar água através dos seus espiráculos, ocorrendo morte por ruptura intestinal.

Em casos seleccionados pode haver indicação para a utilização de fármacos sistémicos como cotrimoxazol e ivermectina. Estes fármacos, apesar de não estarem aprovados como pediculocidas, podem ser úteis em casos especiais, nomeadamente em situações de infestações maciças e em casos de resistência às terapêuticas previamente descritas. Nestas situações, devem ser utilizados em associação à terapêutica tópica.

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