Definição e importância do problema

Para definir esta entidade muitas denominações têm sido referidas por diversos autores.

bronquite aguda consiste num processo inflamatório agudo da mucosa dos brônquios de início abrupto, geralmente de origem vírica, em que a tosse é o sinal proeminente. De acordo com estatísticas dos Estados Unidos, estima-se que na idade pré-escolar ocorram cerca de 2 milhões de episódios de bronquite aguda. Dum modo geral acompanha ou surge na sequência de rinofaringite aguda ou de traqueíte aguda, fazendo parte do quadro clínico acompanhante doutras doenças infecciosas ou do foro respiratório com localização diversa.

bronquite crónica corresponde a uma situação caracterizada por produção excessiva de muco e tosse, associada a febre em períodos não inferiores a 3 meses. De facto, surgindo como manifestação clínica ou epifenómeno de um conjunto doutras entidades, em idade pediátrica o termo “bronquite crónica“ não tem a relevância que lhe é atribuída no adulto, acabando por prevalecer a situação de base como entidade.

Durante as últimas décadas parece que a prevalência duma das modalidades de bronquite – a chamada bronquite bacteriana persistente (BBP) – aumentou e, segundo alguns estudos, a mesma é identificada como causa mais comum de tosse crónica produtiva e como uma das causas de “asma de difícil controle”.

Etiopatogénese

Qualquer alteração dos mecanismos de depuração mucociliar, provocada por infecções respiratórias agudas, asma não controlada, traqueobroncomalácia, processos neurológicos que facilitem a aspiração, hiperfluxo vascular secundário a cardiopatia, e outros, facilitará a colonização bacteriana das vias respiratórias inferiores, sobretudo por microrganismos próprios da flora habitual da orofaringe, como Haemophilus influenzae, Streptococcuus pneumoniae Moraxella catarrhalis.

Classicamente descreve-se um círculo vicioso de fenómenos (precursor de bronquiectasias): Infecção à Inflamação à Lesão da via aérea à Alteração da depuração mucociliar à Infecção.

Os agentes infecciosos mais frequentemente associados à bronquite aguda são: adenovírus dos tipos 1, 7 e 12, vírus influenza e para-influenza, o vírus sincicial respiratório e os rinovírus.

Relativamente às bactérias, estão mais frequentemente implicadas as já referidas como agentes de colonização, assim como Bordetella pertussis e parapertussis e Streptococcus pyogenes. Outros germes têm igualmente sido apontados como agentes etiológicos: Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia psittaci.

O factor ambiente através das poeiras, fumos e alergénios (estes últimos abordados noutro capítulo) tem igualmente papel importante.

Está provada a associação entre fumo do tabaco (activo ou passivo), poluição do ar e bronquite, com ou sem sibilância.

No que respeita à bronquite crónica, em termos de factores etiológicos, tem perfeito cabimento, o que foi referido a propósito das pneumonias recorrentes.

Manifestações clínicas

Os sinais e sintomas característicos são tosse e febre associados a processo inflamatório das vias respiratórias superiores, sendo notória a rinite mucopurulenta com obstrução nasal. A tosse é inicialmente seca , irritatativa, não produtiva, tornando-se produtiva nos dias seguintes. Nos lactentes a tosse é emetizante conduzindo a anorexia e, por vezes, a desidratação.

Nas crianças maiores poderá haver expectoração e dor torácica.

A evolução tem, em geral, a duração de uma semana, com uma fase de recuperação de 1-2 semanas em que é típica a tosse persistente. Trata-se em geral dum processo autolimitado e benigno.

Poderá surgir infecção bacteriana secundária.

As situações crónicas de bronquite obrigam ao diagnóstico diferencial com displasia broncopulmonar, bronquectasias e fibrose quística.

Os dados auscultatórios do tórax revelam roncos dispersos mais audíveis na metade superior da caixa torácica.

A radiografia do tórax é em geral normal na ausência de sobreinfecção bacteriana. Os exames complementares têm valor limitado, sugerindo em geral processo vírico. O hemograma poderá revelar leucocitose ligeira e, em cerca de 1/3 dos casos, mesmo nos processos comprovadamente de etiologia vírica, neutrofilia ligeira.

Tratamento e complicações

O tratamento mais eficaz é o tratamento preventivo incluindo o cumprimento do programa de nacional de vacinação.

Uma vez surgido o episódio, são adoptadas apenas medidas paliativas: desobstrução nasal com soro fisiológico e aspiração nasal cuidadosa das secreções; antipiréticos com prudência (paracetamol) e suprimento abundante de líquidos por via oral para promover a mucolise. Os antitússicos deverão ser utilizados com prudência e apenas nas situações de tosse não produtiva. Em circunstâncias especiais e em crianças maiores poderão ser utilizados anti-histamínicos durante 3-4 dias, havendo congestão nasal importante.

Nos casos de infecção bacteriana secundária está indicada antibioticoterapia. De acordo com o contexto clínico de cada caso poderá recorre-se à fisioterapia com o objectivo de promover a depuração mucociliar.

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