Definição e classificação

Adenoidite é o processo inflamatório localizado nas vegetações adenóides; classicamente são consideradas duas formas clínicas: adenoidite aguda e adenoidite crónica.

1. Adenoidite aguda

O quadro clínico de adenoidite aguda é sobreponível ao da rinofaringite. Ocorre predominantemente em crianças dos 6 meses aos 8 anos sendo causada em 15 a 70% dos casos por vírus (rino-, adeno-, mixo-, e enterovírus e, nas muito jovens, por vírus sincicial respiratório). Nas formas bacterianas, os agentes mais frequentes são Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, Staphylococcus aureus e Moraxella catarrhalis.

As manifestações clínicas compreendem febre alta que, inicialmente, pode ser inexplicável até aparecer uma rinorreia posterior branca a esverdeada, obstrução nasal por hipertrofia adenoideia e rinorreia anterior. A infecção pode estender-se ao ouvido médio (dando origem a otite média aguda ou com derrame), à faringe e à árvore laringo-tráqueo-brônquica. O exame objectivo apenas detecta a presença da rinorreia anterior e posterior ou de otite, não sendo possível observar a nasofaringe em crianças senão com a endoscopia. A radiografia de perfil do cavum não proporciona qualquer informação válida nestes casos.

A antibioticoterapia de primeira escolha compreende amoxicilina/clavulanato ou macrólido azitromicina; como alternativa: cefalosporina de 2ª geração. A duração da terapêutica antibiótica é 10 dias (sendo de 5 dias para a azitromicina).

O tratamento sintomático consiste na aspiração de secreções, administração de analgésicos, antipiréticos e anti-histaminicos se houver confirmação de que a criança tem antecedentes de atopia.

A adenoidectomia é indicada nos casos recidivantes, nos que se acompanham de grande obstrução nasal, e nas formas complicadas: otite aguda de repetição, otite média com derrame persistente, ou associadas a complicações do tracto respiratório inferior.

2. Adenoidite crónica

Ocorre em crianças sujeitas a um regime de vida que as expõe a agressões ambientais e infecciosas (creches, infantários, exposição frequente a lareiras, pais que fumam em casa), com antecedentes de atopia, ou com hipertrofia adenoideia. Tais crianças têm uma rinorreia anterior e posterior persistente que vai da hidrorreia ao exsudado francamente purulento; são frequentes os episódios febris e a roncopatia.

O tratamento consiste no afastamento dos factores agressivos, limpeza nasal com soro fisiológico ou “água do mar” tratada e antialérgicos se indicado. A colheita do exsudado nasofaríngeo evitando a contaminação cutânea à passagem do estilete é útil, demonstrando, muitas vezes, a presença de mais de uma bactéria patogénica. A adenoidectomia tem indicação na presença de complicações nos órgãos vizinhos (otites, sinusites persistentes ou laringo-tráqueo-bronquites), ou de obstrução nasal persistente.

BIBLIOGRAFIA

Baum ED. Tonsilectomy and adenoidectomy and myringotomy with tube insertion. Pediatr Rev 2010; 31: 417-426

Cunill-De Sautu B, Gereige R. Throat infections. Pediatr Rev 2011; 32:459-469

Discolo C M, Darrow D H, Koltai PJ, Infectious indications for tonsillectomy. Pediatr Clin North Am 2003; 50: 445-458

Fairbanks D N, Pocket Guide to Antimicrobial Therapy in tolaryngology Head and Neck Surgery. New York: The American Academy of Otolaryngology Head and Neck Surgery Foundation, 2003

Goldman L, Schafer AI (eds). Goldman-Cecil Medicine. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2016

Kliegman RM, Stanton BF, StGeme JW, Schor NF (eds). Nelson Textbook of Pediatrics. Philadelphia: Elsevier, 2015

Kunnamo A, Korppi M, Helminen M. Tonsillitis in children: unnecessary laboratory studies and antibiotic use. World J Pediatr 2016; 12: 114 – 117

Langlois DM, Andreae M. Group A streptococcal infections. Pediatr Rev 2011; 32:423-429

Monteiro L, Coutinho M, Amorim M, et al. Abordagem da Obstrução Nasal (da Criança até à Idade Escolar). Lisboa: Círculo Médico, 2018

McInerny T(ed). Tratado de Pediatria /American Academy of Pediatrics. Madrid: Panamericana, 2010

Melo-Cristino J, Serrano N, et al. Estudo Viriato: Actualização dos dados de susceptibilidade aos antimicrobianos de bactérias responsáveis por infecções respiratórias adquiridas na comunidade em Portugal em 2001 e 2002. Rev Port Pneumol 2003; (IX): 293-310

Monteiro L, Subtil J (eds). Otorrinolaringologia Pediátrica. Lisboa: Círculo Médico/Bial, 2016

Monteiro L, Coutinho M, Amorim M, et al. Abordagem da Obstrução Nasal (da Criança até à Idade Escolar). Lisboa: Círculo Médico, 2018

Moreno S, Garcia Altozano J, Pinilla B, Lopez J C, et al. Lemierre’s disease: postanginal bacteriemia and pulmonary involvement caused by Fusobacterium necrophorum. Rev Infect Dis 1989; 11: 319-324

Moro M, Málaga S, Madero L (eds). Cruz Tratado de Pediatria. Madrid: Panamericana, 2015

Paço J (ed). Patologia Naso-Sinusal. Lisboa: Círculo Médico, 2008

Reis LM, Rego C, Marinheiro JL. Classificação clínica das amigdalites segundo a etiopatogenia. In Pathos Monografias de Patologia Geral Ano XI 1995; 11: 23-28

Ruah S, Ruah C. O complexo faríngeo. In Ruah S, Ruah C, Manual de Otorrinolaringologia vol. V Lisboa: edições Laboratórios Roche, 2001

Rudolph CD, Rudolph AM, Lister GE, First LR, Gershon AA (eds). Rudolph´s Pediatrics. New York: McGraw-Hill Medical, 2011

Scolnik D, Coates A, Stephens D et al. Controlled delivery of high vs low humidity vs mist therapy for croup in emergency departments. JAMA 2006; 1274-1280

Swedo S E, Leonard H L, Garvey M, Mittleman B, et al. Pediatric autoimmune neuropsychiatric disorders associated (PANDA) with streptococcal infections. Am J Psychiatry, 1998; 155: 264-271

Tiballs J, Watson TJ. Symptoms and signs differentiating croup and epiglotitis. J Paediatr Child Health 2011; 47: 77-82

Zorob R, Sidani M, Murray J. Croup: an overview. J Am Fam Physician 2011; 83: 1067 -1073