Neste capítulo são referidas de modo sucinto as idades recomendadas para intervenções cirúrgicas electivas (situações mais frequentes) no pressuposto de que poderá haver variantes de actuação dependendo do contexto clínico de cada caso. 

Parede abdominal/região inguinal

Hérnia inguinal ou inguinoscrotal

Quando diagnosticada (ponderando situações com antecedentes de prematuridade).

Hérnia umbilical

Após os 4 anos, tendo em conta o encerramento espontâneo frequente.

Hérnia da linha branca

Em qualquer idade, não havendo queixas (o estrangulamento é raro).

Órgãos genitais

Fimose  

Após a criança deixar de usar fraldas (em regra após 3-4 anos). Haverá que ponderar caso a caso as situações acompanhadas de infecção urinária.

Parafimose

Intervenção de urgência (em geral não cruenta).

Hidrocele comunicante

Após os 2 anos; se existirem dúvidas quanto ao diagnóstico diferencial com hérnia inguinal, a intervenção deve ser realizada uma vez identificada a situação.

Quisto do cordão

Após os 2 anos.

Criptorquidia

Esta situação, quer seja unilateral, quer bilateral, uma vez identificada pelo médico de família ou pediatra, deverá ser encaminhada ao cirurgião. Sendo bilateral, a intervenção deve ser feita após o diagnóstico; se unilateral, entre 12 e 18 meses.

Hipospadia  

Entre os 6 e 12 meses, conforme dimensões do pénis. Os casos associados a meato punctiforme deverão ser analisados de modo especial, podendo eventualmente estar indicado o início das intervenções quando diagnosticada. De referir a possibilidade de fístulas pós-operatórias, as quais devem ser encerradas 1 ano após intervenção.

Varicocele  

Esta situação deverá ser vigiada até à puberdade, de preferência sob orientação do cirurgião. A intervenção está indicada se existirem sintomas associados.

Torção testicular

Intervenção de emergência.

Hímen imperfurado

Intervenção logo que feito o diagnóstico.

Massas anexiais quísticas

Intervenção dependente da sintomatologia. Ausência de consenso nos casos assintomáticos.

Síndroma de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser

Durante a adolescência.

Cabeça e pescoço

Fenda labial (lábio leporino)

Em geral recomenda-se intervenção após os 2-3 meses, havendo variantes de actuação. Como princípio geral, tal situação deverá ser vigiada em colaboração com a equipa cirúrgica, uma vez feito o diagnóstico.

Fenda velopalatina

Existem variantes de actuação; a atitude clássica considera os 12 meses, havendo necessidade de ponderar caso a caso.

Freio lingual curto (Anquiloglóssia)

Cada caso deve ser ponderado.

Inserção baixa do freio do lábio superior

Se a base de inserção do freio se localizar entre os 2 incisivos superiores médios, mantendo-os afastados, a ressecção está indicada após início da erupção dentária definitiva, caso os referidos dentes definitivos se mantenham afastados.

Hellix valgum (Orelhas “descoladas”, em abano, ou em apagador de velas)

Intervenção a partir dos 4 anos.

Quisto epidermóide do supracílio

Intervenção em qualquer idade.

Oto-hematoma pós-traumatismo da orelha

Intervenção de urgência/ quase emergência.

Torcicolo muscular congénito

No caso de actuação fisiátrica sem sucesso, após 12-18 meses.

Fístulas, quistos e resíduos branquiais

Logo que diagnosticados.

Quisto do canal tiroglosso

Logo que diagnosticado (e preferência antes que surja infecção secundária).

Parede torácica

Pectus excavatum

Aos 10-12 anos, devendo a situação ser encaminhada para o cirurgião logo que diagnosticada para avaliação evolutiva.

Dedos

Polidactilia

A idade de intervenção varia de acordo com o contexto clínico, sendo aconselhável encaminhamento programado para o cirurgião na perspectiva de vigilância colaborativa.

Sindactilia        

Após os 6 meses de idade.

Anomalias ano-rectais

A decisão terapêutica imediata mais importante prende-se com a eventual necessidade de construção duma colostomia diversiva. Esta decisão depende do tipo de anomalia ano-rectal, e deverá ser tomada após um intervalo de 16 a 24 horas depois do nascimento.

Actualmente, a idade para a realização da cirurgia definitiva está a ser reduzida para as primeiras oito semanas de vida; exceptua-se a correcção cirúrgica da cloaca, em geral realizada entre os seis meses e o 1 ano de idade.

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