Definição e importância do problema

A catarata é definida como opacidade do cristalino. A repercussão na visão depende essencialmente de vários factores como intensidade da referida opacidade, sua extensão e uni ou bilateralidade.

Tal anomalia, contribuindo significativamente para diminuir o estímulo visual na primeira infância, poderá interferir no desenvolvimento da área do córtex cerebral responsável pela visão (área occipital), dando origem a sequelas, tais como ambliopia. Por outro lado, sendo detectada em fase precoce da vida, existe a possibilidade de intervenção com bons resultados.

A catarata constitui uma das afecções do sistema ocular mais frequentes em idade pediátrica, (entre 2 a 4 por 10.000 recém-nascidos), por sua vez explicando cerca de 15% dos casos de cegueira nos países ditos desenvolvidos.

As cataratas (uni ou bilaterais) podem também estar associadas a outras afecções oculares ou sistémicas, ser congénitas (evidentes na data do nascimento ou pouco tempo depois) ou adquiridas na vida extra-uterina. (ver glossário no fim do capítulo)

Etiopatogénese

Existe uma multiplicidade de factores etiológicos que poderão levar à opacidade do cristalino; descrevem-se como factores mais frequentes os genéticos (cerca de 25-35% dos casos segundo várias estatísticas, sendo mais frequente a hereditariedade de tipo autossómico dominante), infecções fetais (cerca de 40% dos casos), doenças metabólicas (cerca de 10%). Salienta-se que em cerca de 1/3 dos casos nenhum factor etiológico é, na fase actual dos conhecimentos, identificável (formas ditas idiopáticas). (Quadro 1)

QUADRO 1 – Cataratas em idade pediátrica e patologia associada

Doenças metabólicas (galactosémia, doença de Niemann-Pick, doença de Wilson, abetalipoproteinémia, homocistinémia, etc.)
Infecções fetais (grupo TORCHS-toxoplamose, rubéola, citomegalovírus, herpes, sífilis, outros)
Doenças endócrinas (diabetes mellitus, hipoparatiroidismo, etc.)
Doenças genéticas (síndromas como trissomia, síndroma de Alport, Crouzon, Conradi, Marfan, etc.)
Associadas a outras doenças oculares (coloboma, aniridia, microftalmia, etc.)
Miscelânea (corticoterapia, radioterapia, lesões traumáticas, causa desconhecida/formas idiopáticas)

Manifestações clínicas

A manifestação clínica clássica da catarata é a leucocória (sinal de pupila “branca” ou do reflexo pupilar “branco”); refira-se, no entanto, que as manifestações podem variar, essencialmente em função da localização e intensidade da opacidade. Outros sinais são: nistagmo, fotofobia, estrabismo, sensação de alheamento ou de contacto social, já por volta dos 2-3 meses, fase em que a criança nascida de termo começa em condições normais, a seguir objectos.

A ausência do “reflexo vermelho” pode ser evidenciada por oftalmoscopia directa, a qual deverá ser realizada no âmbito dos exames de saúde durante o primeiro ano de vida pelo clínico geral ou pediatra.

Tendo em consideração que determinados casos de localização posterior são detectáveis somente por biomicroscópio com lâmpada de fenda pelo oftalmologista, qualquer suspeita face à verificação de antecedentes familiares ou doutros sinais atrás descritos, implica o encaminhamento atempado para a consulta de Oftalmologia.

Tratamento

O tratamento, da competência do oftalmologista, consiste na remoção do cristalino e ulterior correção do erro de refracção com óculos ou, em casos especiais, aplicação de lentes de contacto ou de implantação. Na actuação está implícita a necessidade de correção da ambliopia e de processo de reabilitação. Refira-se a importância do diagnóstico precoce, factor determinante do prognóstico.

Importa salientar que a reabilitação – que pode ser processo moroso – a cargo de uma equipa multidisciplinar (incluindo, designadamente pediatra/clínico geral, oftalmologista, fisiatra e técnico de oftalmologia), constitui uma vertente fundamental da actuação tendo em vista a tentativa de recuperação.

Prognóstico

O prognóstico depende dum conjunto de factores. São considerados agravantes: baixa idade da criança, baixa idade de detecção, anterior ao completo desenvolvimento visual, intensidade da opacidade, unilateralidade implicando maior dificuldade na recuperação funcional, duração e gravidade da ambliopia, associação a doença ocular ou sistémica, etc..

A precocidade do diagnóstico e da intervenção (remoção do cristalino afectado), constituem, dum modo geral, factores de bom prognóstico.

Glossário

Sendo a catarata uma anomalia do cristalino, importa definir outras anomalias do mesmo.
Ectopia > Deslocação congénita do cristalino da posição normal; sinónimo em latim: ectopia lentis.
Lenticone > Defeito congénito do cristalino que consiste na verificação de saliência central (~cone, daí o nome) anterior ou posterior. Pode estar associado a catarata.
Microsferofaquia > Conformação esferóide do cristalino, cujas dimensões são reduzidas (~microsfera). Trata-se de defeito por vezes associado a diversas síndromas (Marfan, Klinefelter, etc.).

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