Definição e importância do problema

A pitiríase rosada é uma dermatose eritematodescamativa de início agudo, benigna e autolimitada. Não se associa a sintomas sistémicos significativos e o diagnóstico é baseado na apresentação clínica típica.

Ocorre em indivíduos jovens, geralmente entre os 10 e os 35 anos de idade. O pico de incidência ocorre na adolescência, sendo rara antes dos 2 anos e nos idosos. Surge em todas as raças, e parece ser mais frequente no sexo feminino. Alguns estudos referem incidência mais elevada na Primavera e Outono.

Etiopatogénese

O mecanismo de infecção vírica parece ser o mais provável, em relação com uma reacção de hipersensibilidade tardia ao agente infeccioso. A ocorrência ocasional em indivíduos da mesma família ou contactos próximos favorece esta hipótese. Os vírus do grupo Herpes, nomeadamente HHV-6 e HHV-7 são mais frequentemente implicados. Num estudo epidemiológico foram identificados como principais factores associados a história de utilização de vestuário novo (75% dos casos), infecção respiratória recente (51%) e infeção gastrintestinal recente (28%). De acordo com diversos estudos concluiu-se que determinados fármacos como captopril, betabloqueantes, isotretinoína e griseofulvina poderão causar erupções cutâneas semelhantes à pitiríase rosada

Manifestações clínicas

A pitiríase rosada manifesta-se habitualmente sob a forma de manchas ovaladas eritematodescamativas, com descamação fina periférica, localizadas predominantemente no tronco e região proximal dos membros. Contudo, surgem por vezes formas de apresentação clínica atípicas, que constituem um desafio diagnóstico.

A dermatose é ocasionalmente precedida por sintomas sistémicos ligeiros, nomeadamente cefaleias, febre baixa, artralgias e mal-estar geral.

Pitiríase rosada típica (clássica)

Inicia-se por mancha ou placa eritematosa ou cor de salmão, descamativa, ovalar, em regra localizada ao tronco e única (mancha mãe ou herald patch), de 2 a 5 cm de diâmetro, que aumenta progressivamente (Figuras 1 a 3) . A “mancha mãe” é identificável em cerca de 50 a 90 % dos casos; menos frequentemente surge na face, região cervical ou extremidades.

FIGURA 1. “Mancha mãe” da pitiríase rosada. Adaptado de Ana Fidalgo, 2013 na 2ª edição da obra

FIGURA 2. Pitiríase rosada: esquema de distribuição das lesões na forma clássica ou típica. Seta indicando a Mancha mãe

FIGURA 3. Pitiríase rosada em adolescente – distribuição de manchas ovaladas rosadas, com descamação fina no tronco e região proximal dos membros

Numa minoria dos doentes (5%) pode ocorrer pródromo de mal-estar geral, anorexia, febre, cefaleias e artralgias. Após 5 a 15 dias surge, com carácter súbito, erupção constituída por inúmeras lesões semelhantes, mas mais pequenas que a precedente, de dimensões variáveis (0,5-1,5 cm), afectando tronco e extremidades proximais. As lesões são bem delimitadas, rosadas, ovalares, e o seu maior eixo dispõe-se paralelamente à grelha costal (linhas de clivagem de Langer), numa distribuição em “árvore de Natal”, que é mais evidente no dorso. O centro das lesões adquire uma escama fina, enrugada, que progride excentricamente, formando uma franja circular descamativa característica (em “collarete”). A face, palmas e plantas são habitualmente poupadas. O envolvimento das mucosas é raro. Na raça negra as lesões podem apresentar um aspecto psoriasiforme.

A erupção é assintomática, ou rara ligeiramente pruriginosa. Não se acompanha de sintomas sistémicos e evolui espontaneamente para a cura, podendo deixar hipo ou hiperpigmentação. Raramente ocorrem recidivas.

Pitiríase rosada atípica

As formas atípicas são mais frequentes nas crianças pequenas e em indivíduos de raça negra. Podem assumir morfologia pustular, purpúrica, vesicular, urticariforme ou semelhante ao eritema multiforme. A forma inversa carateriza-se pelo aparecimento de manchas ovaladas eritematosas ou rosadas, com descamação periférica, localizadas nas axilas e região inguinal. Estas formas clínicas requerem frequentemente diagnóstico diferencial com outras entidades, destacando-se a importância da ausência de sintomatologia sistémica.

Diagnóstico

É essencialmente clínico e baseado na morfologia, distribuição e evolução das lesões. As principais situações com as quais se faz o diagnóstico diferencial são as toxidermias, as dermatofitias e a psoríase gutata na forma clássica.

As formas atípicas podem conduzir a hipóteses de diagnóstico diferencial com várias entidades.

Quando a dermatose se prolonga por mais de 6 semanas, deve considerar-se o diagnóstico de pitiríase liquenóide.

Tratamento

A dermatose é autolimitada e com resolução espontânea em cerca de 6 semanas. Raramente pode prolongar-se por mais tempo. O tratamento consiste em medidas de conforto, nomeadamente emolientes, anti-histamínicos e corticoterapia tópica de baixa potência se houver prurido associado.

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